Análise: Quaest confirma que Lula venceu o Congresso no embate ‘pobres vs ricos’ nas redes sociais

Monitoramento da Quaest aponta primeira vitória de Lula nas redes sociais sobre taxação dos super-ricos. Engajamento encurralou Congresso e a direita bolsonarista.  

Análise: Quaest confirma que Lula venceu o Congresso no embate ‘pobre vs ricos’ nas redes sociais
Percepção nas redes sociais é que o Congresso Nacional está na defesa dos ricos pagar menos impostos no Brasil

O presidente da Câmara, Hugo Motta, já demonstrava preocupação sobre a possibilidade de uma polarização social entre o governo Lula e o Congresso Nacional. Segundo ele, esse embate poderia acirrar ainda mais as tensões no Brasil, especialmente no contexto da discussão sobre desigualdade fiscal, em que ricos pagam menos impostos e trabalhadores sustentam a carga tributária do país. A pesquisa de monitoramento de redes sociais, realizada pela Quaest, não apenas confirmou esses temores como também revelou que o governo Lula levou vantagem nesse confronto, especialmente nas plataformas digitais.

A pesquisa acompanhou as movimentações nas redes sociais de 17 a 30 de junho, e os números são impressionantes: 2,2 milhões de menções e o alcance de 10 milhões de contas por hora. O presidente da Quaest, Felipe Nunes, afirmou que este foi o primeiro embate nas redes sociais em que o governo conseguiu vencer de forma decisiva. "A última semana foi marcada por uma ampla vantagem no volume e no alcance de menções a favor do governo", disse Nunes.

A razão para essa vitória política nas redes sociais está diretamente ligada aos últimos episódios que envolveram o Congresso. A pesquisa identificou que a votação que derrubou vetos de Lula sobre a lei das usinas eólicas offshore, que poderia aumentar em quase R$ 200 bilhões a conta de luz dos brasileiros até 2050, foi o estopim. A derrubada dos vetos gerou uma onda de indignação nas redes sociais e a hashtag #InimigosDoPovo rapidamente viralizou, atingindo deputados e senadores.

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Logo depois, outro fator de indignação nas redes foi a votação sobre o aumento do número de deputados de 513 para 531, prevista para 2027, e a derrubada do decreto presidencial que elevava alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A reação popular foi em massa, com críticas pesadas ao Congresso e a seus representantes, particularmente ao presidente da Câmara, Hugo Motta, e ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre.

Esse movimento foi uma combinação de fatores que expuseram ainda mais a percepção de que o Parlamento age de acordo com seus próprios interesses. A população, de acordo com a pesquisa da Quaest, vê com cada vez mais clareza que o Congresso tem buscado proteger privilégios de uma elite rica, ao mesmo tempo que mantém os mais pobres e trabalhadores sustentando a maior parte da carga tributária. No Brasil, a desigualdade fiscal é evidente: enquanto os trabalhadores pagam 27% de Imposto de Renda, os ricos, que ganham acima de R$ 50 mil, contribuem com apenas 2,5%. Esse contraste tornou-se insustentável nas redes sociais.

O governo, por sua vez, não perdeu tempo e soube se aproveitar dessa janela de oportunidade para reforçar sua agenda de justiça tributária, um tema frequentemente defendido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A proposta de redução de desonerações e isenções fiscais tem sido uma das prioridades do governo, sendo defendida pelo ministro desde o início de sua gestão. Esse movimento encontrou ressonância popular, especialmente após a crescente percepção de que o Congresso, em suas decisões, parecia alicerçar uma proteção aos mais ricos.

A agenda de justiça tributária do governo Lula se contrapõe diretamente à agenda do Congresso, especialmente do Centrão e da ala bolsonarista, que buscaram enfraquecer as propostas de aumento de tributação dos mais ricos, como a reforma do sistema fiscal e a tentativa de aumentar a alíquota do IOF. Essa movimentação, especialmente nas redes sociais, expôs ainda mais o papel da política no favorecimento dos ricos, o que gerou reações acentuadas contra os parlamentares.

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Diferente de outras disputas políticas nas redes, nas últimas semanas a polarização social tomou um rumo mais amplo e de crítica direta ao Congresso, sem ceder espaço à manipulação da direita com fake news. Embora a oposição de direita tenha tentado desviar a atenção com seu tradicional arsenal de desinformação, o fato de o tema ser tão palpável e diretamente ligado ao cotidiano dos brasileiros não permitiu que o discurso se desviasse do foco. Enquanto os ricos pagam menos impostos, o povo paga caro todos os meses, o que tornou o debate ainda mais poderoso. Esse sentimento uniu eleitores e opositores, colocando o Congresso em uma posição extremamente desconfortável.

A mobilização digital evidenciou um clima de insatisfação com a atuação do Congresso, especialmente após decisões como a do aumento do número de deputados e senadores e a aprovação de medidas que contrariam o interesse popular. O movimento virtual foi uma clara reação ao comportamento dos parlamentares, e a percepção de que o Congresso trabalha para proteger interesses próprios e não o bem-estar da população pode ter efeitos duradouros nas eleições futuras.

O governo Lula, após anos de desgaste e desafios com a oposição, conseguiu virar o jogo no campo das redes sociais, estabelecendo uma vitória política nas plataformas digitais. A percepção de que o Congresso está mais alinhado com os interesses da elite econômica do que com as necessidades do povo parece ter se solidificado entre os brasileiros. Esse episódio deixa claro que o debate sobre justiça tributária e o combate às desigualdades fiscais será, sem dúvida, um dos maiores temas da política brasileira nos próximos anos.

O Congresso e os parlamentares do Centrão e da direita bolsonarista, especialmente Hugo Motta e Davi Alcolumbre, talvez ainda subestimem o impacto das redes sociais na formação da opinião pública. O governo, por sua vez, pode ter encontrado um caminho para reforçar sua base popular, ao se posicionar como defensor de uma agenda mais justa para o povo brasileiro, especialmente na luta contra os privilégios dos ricos.

A batalha nas redes sociais está longe de terminar, mas, por enquanto, o placar está claro: o governo Lula levou a melhor.