Após receberem diárias da Câmara de Itapetinga, vereadores podem estar manipulando estadias prolongadas em Salvador para ficar com boa parte de uma verba de viagem de R$ 3,2 mil.
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Plenário da Câmara Municipal de Itapetinga na Bahia. |
Em menos de cinco meses, a Câmara de Vereadores de Itapetinga já gastou R$ 135 mil em diárias de viagens a Salvador, desde que o vereador Luciano Almeida assumiu a presidência da Casa Legislativa em 1º de janeiro de 2025. A quantia, vultosa para os cofres públicos de um município de porte médio, levanta sérias suspeitas de abusos e desvios por parte dos parlamentares, que estariam forjando estadias prolongadas na capital baiana para embolsar dinheiro público sem prestar serviços efetivos.
Segundo apurações, a maioria das viagens solicitadas é de três dias, padrão que garante o pagamento de R$ 3.200,00 por parlamentar. Contudo, há fortes indícios de que os vereadores retornam à cidade ainda no primeiro dia, simulando permanência em Salvador para justificar o recebimento integral da diária. A diferença entre o valor recebido e o gasto real com a viagem estaria sendo embolsada, mensalmente, por alguns parlamentares. É bom, lembrar que o valor das diárias é líquida já que as viagens são com veículo oficial onde os combustíveis são custeados pelo legislativo.
O caso mais emblemático envolve a vereadora Manu Brandão (MDB), que, mesmo com diária aprovada para estar em viagem oficial à capital baiana, foi flagrada em evento da Prefeitura de Itapetinga, ao lado do prefeito Eduardo Hagge, durante o lançamento da programação do São João no Parque da Lagoa. Pressionada pelo flagrante, a vereadora tentou simular a devolução do valor das diárias, mas os registros apontam que a restituição só ocorreu seis dias depois do evento público.
Vereadora Manu Brandão é triturada nas redes sociais por tentar forjar diárias de viagens (VEJA AQUI)
A manobra escancarou uma prática mensal que vem sendo discretamente repetida por outros vereadores, segundo fontes internas da própria Câmara. A tática envolve ficar escondido em casa ou em residências de amigos, aguardando o fim do período de diárias para justificar o pagamento integral, sem sequer cumprir agenda oficial em Salvador.
Para obter os comprovantes exigidos, os vereadores recorrem a um expediente simples: visitam a Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), onde passam apenas algumas horas e solicitam um protocolo de visita ou uma declaração de presença em gabinetes de deputados estaduais. Este único registro já é suficiente para montar a “prova” da suposta viagem de trabalho.
No entanto, não há fiscalização efetiva sobre o cumprimento das agendas parlamentares durante esses períodos, e a Câmara de Itapetinga continua liberando os pagamentos sem critérios claros de aferição, beneficiando aqueles que repetem esse roteiro mensalmente. O resultado: um rombo silencioso nos cofres públicos e um festival de regalias financiado pela população.
Com viagens forjadas de três dias e estadia real de apenas um dia (ou nenhum), cada vereador pode embolsar cerca de R$ 2.700,00 de sobra líquida por viagem. Como muitos repetem esse expediente mensalmente, é possível que parlamentares estejam tirando proveito de até R$ 13.500 em “extras” ao longo dos cinco primeiros meses do ano, sem qualquer contrapartida administrativa relevante.
Até o momento, o presidente Luciano Almeida não se pronunciou publicamente sobre os gastos nem sobre os indícios de irregularidades, mesmo que esse tema venha a ser cobrados em programas de rádio da cidade.
O que era para ser um instrumento legítimo de custeio das atividades legislativas transformou-se em instrumento de enriquecimento ilícito disfarçado de rotina parlamentar. A farra das diárias em Itapetinga expõe um grave problema de fiscalização frouxa e falta de compromisso ético com o erário público. Enquanto isso, a população paga a conta e espera por justiça que custa aparecer.
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