Vereadores de Itapetinga acertam ao derrubar a PL dos Advogados. Reportagem da Folha detalha danos aos cofres

Editorial de jornal paulistano expõe os danos de uma lei de honorários para advogados públicos aos cofres e os riscos que Itapetinga correria se os vereadores não a derrubassem.

Plenário da Câmara Municipal de Itapetinga, município do sudoeste baiano.

Um editorial contundente da Folha de S.Paulo um dos veículos mais respeitados da imprensa brasileira, lançou luz sobre os impactos negativos dos chamados honorários de sucumbência pagos a advogados públicos. Esses valores, originalmente destinados aos cofres públicos, vêm sendo transferidos a uma seleta elite de servidores, como ocorre na Advocacia-Geral da União (AGU), onde alguns profissionais chegaram a receber milhares de reais em um único mês, além dos salários regulares.

A mesma proposta, de teor semelhante, tramitou na Câmara Municipal de Itapetinga por iniciativa do prefeito Eduardo Hagge (MDB), mas foi rejeitada pelos vereadores. A decisão dos vereadores locais se alinha ao alerta da Folha, que denuncia os “absurdos” de uma legislação nascida no âmbito federal e replicada em estados e em alguns municípios, sob o argumento de valorização do serviço jurídico, mas que, na prática, cria distorções graves no uso dos recursos públicos.

A reportagem denuncia que, desde 2017, a União já destinou R$ 15,8 bilhões em honorários de sucumbência por meio do Conselho Curador dos Honorários Advocatícios (CCHA), entidade privada que administra dinheiro público com pouca transparência. “Além dos valores exorbitantes, há vícios como a falta de transparência e a criação de incentivos perversos”, alerta o editorial da Folha, que conclui de forma categórica: “A extinção desses pagamentos é imperativa.” 

Uma fabula de dinheiro rateada para 12,8 mil inscritos na Advocacia Geral da União (AGU). Conforme revelado pela Folha, profissionais da AGU chegaram a receber até R$ 547 mil em um único mês, recursos que se somam aos salários regulares.

Em Itapetinga, a proposta de criar um sistema semelhante já havia sido apresentada por três gestões distintas dos ex-prefeitos José Carlos Moura (PT), Rodrigo Hagge (MDB) e novamente pelo atual prefeito Eduardo Hagge (MDB) sempre rechaçada pela Câmara Municipal. Na legislatura atual (2025–2028), o projeto conhecido como “PL dos Advogados” foi rejeitado de forma quase unânime, com apenas único voto favorável.

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O site IDenuncias, único veículo de Itapetinga a acompanhar de perto a tramitação da proposta, alertou em diversas reportagens para os prejuízos que a medida causaria aos cofres do município e aos contribuintes devedores. Segundo a série publicada, o projeto beneficiaria diretamente um grupo restrito de seis advogados da Prefeitura com a criação de um Conselho Municipal de Honorários Advocatícios nos moldes do CCHA federal que ficaria responsável pela gestão dos recursos desviados da dívida ativa da cidade.

Estima-se que a dívida ativa de Itapetinga ultrapasse dezenas de milhões de reais. Caso o projeto fosse aprovado, até 30% desse valor poderia ser transferido aos advogados municipais, além de estimular judicializações em massa contra contribuintes inadimplentes.

O IDenuncias também revelou o interesse direto de um ex-presidente da OAB local, hoje assessor do prefeito, que teria atuado nos bastidores da proposta. A intenção, segundo as denúncias, seria assumir o comando das cobranças judiciais. Mas a reportagem da Folha lança luz, da verdadeira intenção seria conselho gestor dos honorários, numa tentativa de consolidar o controle sobre os milhões arrecadados via execução fiscal. O projeto tramitava com apoio de parte do Executivo, mas encontrou firme oposição da maioria dos vereadores.

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Ao rejeitarem o projeto, os vereadores não apenas evitaram danos significativos ao erário municipal, como também impediram o favorecimento de um pequeno grupo de servidores públicos às custas da população. A decisão vai ao encontro da crítica da Folha de S.Paulo, que destaca: “Essa lógica mercantilista desvirtua a essência do serviço público, que deveria pautar-se pela eficiência e pelo bem comum. Tais profissionais, com estabilidade, já recebem salários compatíveis com suas responsabilidades.”

Com a derrubada da PL dos Advogados, a Câmara de Itapetinga se posiciona como um exemplo de responsabilidade fiscal e compromisso com o interesse público. Em tempos de crise e desigualdade social, blindar os cofres públicos contra privilégios indevidos é mais do que uma escolha política, é uma obrigação moral.