Entenda o plano da presidência antecipada do Vereador Tiquinho à Câmara de Itapetinga que deu errado

O emaranhado jogo de intrigas e traições no plano de Tiquinho Nogueira e Gildásio Queiroz que chegou ao fim por uma traição inesperada.

Entenda o plano da presidência antecipada do Vereador Tiquinho à Câmara de Itapetinga que deu errado
O sonho da presidência de Câmara do vereador que deu errado por uma traição. 

Por trás de todo plano político, sempre há outro. O chamado "plano B” aquele que deve salvar a pátria quando o plano principal falha. Mas, e quando ambos falham? A resposta é simples: recomeçar tudo de novo. O problema, no entanto, é como começar, quando a lógica da política desmorona diante dos próprios olhos. Vou explicar desde o início.

Em Itapetinga, o vereador Luciano Almeida (MDB), atual presidente da Câmara Municipal, e o vereador Tiquinho Nogueira (PSD) estavam arquitetando um plano para ter o controle da Mesa Diretora do Legislativo. Para isso, uniram forças com uma figura conhecida nos bastidores políticos locais, o ex-vereador e presidente partidário Gildásio Queiroz (DC). Juntos, articularam uma aliança com vereadores de oposição, incluindo o próprio Tiquinho. O objetivo? Convencer o então recém-eleito prefeito de Itapetinga, Eduardo Hagge (MDB), a apoiar a eleição de Luciano Almeida para a presidência da Câmara, mesmo que isso fosse ir contra a maioria de sua própria base, formada por vereadores do seu partido, o MDB.

Em resumo: o prefeito Eduardo Hagge aceitou a proposta de colocar Luciano Almeida como presidente, mesmo que isso significasse romper com sua própria base política, formada por aliados do MDB e partidos coligados. E como convencer o prefeito a agir contra sua base? A resposta estava em uma estratégia baseada na teoria da conspiração: a ideia de que seu sobrinho, o então prefeito Rodrigo Hagge (MDB) de saída da Prefeitura, queria interferir na gestão do tio. A narrativa foi cuidadosamente construída e caiu como uma luva para o prefeito e sua esposa, Zezé Hagge, criando intrigas que quase levaram a uma ruptura familiar.

Para garantir apoio dentro da Câmara, Tiquinho e Queiroz promoveram almoços e jantares em grande estilo na residência do ex-vereador Gildásio Queiroz. Com direito a peixes, churrasco e outros pratos típicos, políticos da oposição como Sibele Nery (PT), Daniel Lacerda (Podemos), e até aliados do governo, como Manu Brandão (MDB), Neto Ferraz e Pastor Jean Doiriel (PL), e claro, a presença do prefeito eleito Eduardo Hagge, foram atraídos para as negociações. Mas havia um detalhe crucial: eram necessários oito votos para eleger o novo presidente da Câmara. E esse número crucial estava nas mãos do grupo governista ligado ao vereador Valquírio Lima (MDB). A peça chave, era ativista Sol dos Animais (Solidariedade), vereadora de primeira viagem eleita na oposição, que se viu forçada a se alinhar com o projeto de Tiquinho, em troca de barganhas políticas.

De Sol a Traíra: a vereadora que aplicou ‘171’ em Tarugão para eleger Luciano presidente da Câmara de Itapetinga (Click Aqui)

24 horas antes da eleição da Mesa Diretora, a pressão sobre Sol dos Animais foi intensa. Sob ameaças do próprio partido, o Solidariedade, e com promessas de vantagens vindas da Prefeitura, a vereadora se rendeu à pressão. O plano de Tiquinho e Queiroz, com o apoio de Sol, estava prestes a se concretizar, com a traição da vereadora sobre o grupo de Valquirão que escolheu o vereador Tarugão (MDB) na cabeça de chapa como candidato a presidente.

Com missão de eleger Luciano Almeida novo presidente concluída, o jogo estava apenas começando. O trio de articuladores, Tiquinho, Queiroz e Almeida, mantinha um acordo sigiloso: antes do recesso parlamentar, a presidência da Câmara seria antecipada para junho deste ano, com o objetivo de eleger Tiquinho Nogueira como o próximo presidente. Um plano ambicioso, mas mantido em segredo até mesmo para os outros membros da Mesa Diretora e, do prefeito Eduardo Hagge.

A relação entre os prefeitos, tio e sobrinho, já tensa, parecia ajudar a consolidar o plano. Tiquinho e Queiroz, aproveitando-se da inexperiência política de Zezé Hagge, começavam a manobrar por trás das cortinas. A primeira-dama, sem grande vivência política, foi vista como uma peça-chave na articulação para garantir apoio à presidência antecipada de Tiquinho. A ideia era que ela, como figura influente na administração, ajudasse a alinhar o apoio necessário para a eleição legislativa.

Contudo, o que parecia ser uma jogada de mestre começou a desmoronar com um inesperado e escandaloso acontecimento que estarreceu a cidade: a traição conjugal da primeira-dama, Zezé Hagge, sob seu marido, o prefeito Eduardo Hagge. O caso foi parar na mídia baiana e se espalhou rapidamente, causando um grande estrago na imagem do administrador local. A traição obrigou o prefeito a demitir sumariamente Zezé do cargo de secretaria municipal de Ação Social, e com ordem de afastamento da influência de sua ex-mulher das pastas municipais.

Sem o apoio de Zezé e com a crescente desarticulação política da gestão Eduardo, o plano de Tiquinho e Queiroz começou a desmoronar. A base de apoio que havia eleito Luciano Almeida se distanciou inviabilizando o projeto da presidência antecipada de Tiquinho. E não foi só isso: a gestão de Eduardo Hagge, que já enfrentava uma crise interna, começou a se mostrar cada vez mais desorganizada, com aliados insatisfeitos e um governo em crise com apenas oito meses de administração.

O projeto de Tiquinho, então, foi abortado. O vereador, isolado politicamente, se viu obrigado a recuar. Gildásio Queiroz, por sua vez, passou a cobrar as "dívidas" pela sua participação na trama, com contratos na Prefeitura e na Câmara que somaram impressionantes R$ 73 mil. O dinheiro foi destinado a "supostos serviços", mas que acabaram sendo vistos como parte do custo político de um plano que acabou dando errado.

Presidente de partido em Itapetinga acumula contratos de R$ 73 mil na Câmara e Prefeitura sem prestar serviços (Click Aqui)

E assim, no emaranhado de traições, intrigas e traições políticas, o plano de Tiquinho Nogueira para uma presidência antecipada na Câmara de Itapetinga chegou ao fim, um jogo de poder que, no fim, não deu certo. A política local segue cheia de surpresas, com os protagonistas desse enredo agora tentando entender como recomeçar no cenário que eles mesmos ajudaram a criar.