Programa beneficia mais de 9 mil famílias, mas número de atendidos cai pela 1ª vez em anos, sinalizando que geração de empregos está tirando pessoas da dependência do auxílio.
Todo mês, um caminhão invisível, carregado com R$ 6,5 milhões em dinheiro vivo, descarrega sua carga na cidade. Esse dinheiro não vai para grandes empresas nem para obras milionárias. Ele vai direto para o bolso de mais de 9 mil famílias que mal conseguem chegar ao fim do mês. É o dinheiro do Bolsa Família e do Vale-Gás. E a história do que acontece com essa grana depois é a explicação de como Itapetinga está respirando economia num momento de mudança.
A Soma que Impulsiona o Dia a Dia. Os números oficiais de novembro de 2025 são claros: 9.507 famílias da cidade receberam R$ 6.385.357,00 do Bolsa Família. Outras 609 famílias receberam R$ 65.772,00 do Auxílio Gás. Some tudo: R$ 6.451.129,00 entrando na economia local em um único mês.
Faça as contas anuais: são quase R$ 77,5 milhões despejados no comércio de Itapetinga todo ano. É um orçamento maior que o de muitas empresas da região. Esse dinheiro tem um destino certo: o consumo interno e de imediato.
"Dona Maria", vendedora na feira livre (que preferiu não se identificar), é categórica: "O dia que cai o Bolsa é o dia que a feira fica viva. A gente vê no olhar. É o dinheiro do leite, do pão, da fruta, do gás. É o dinheiro que não espera. Vai tudo pra mesa de casa". Um mercadinho, de sobrenome Souza, em um bairro da cidade, alegra quando os beneficiários do Bolsa Família chegam em boa hora, de olho no pagamento das futuras dos fornecedores de sua empresa. Sem falar de uma proprietária de outro mercadinho, que vende na antiga caderneta do ‘fiado’, aos beneficiários do Bolsa Família que paga em dia com seu ‘Vale Bolsa’, e que já busca ampliar os negócios para uma distribuidora de gás de botijão.
O Dinheiro que Não Viaja. A força desse dinheiro está justamente na sua "imobilidade". São famílias em situação de vulnerabilidade. Raramente esse recurso é usado para uma viagem ou um luxo. Ele é reinvestido na própria cidade.
"É um efeito multiplicador local poderosíssimo", analisa um economista e local, João Silva (nome fictício para representar a análise técnica). "Esse montante mensal garante um fluxo de caixa mínimo para o pequeno e médio comerciante. Sustenta empregos no mercado do bairro, na farmácia, na loja de material de construção. É um ciclo: o governo transfere para a família, a família compra no comércio, o comércio paga funcionários e fornecedores, que também consomem. É uma âncora econômica."
A Queda que é Boa Notícia: O Gráfico que Conta uma História. Mas há um movimento novo nos dados. O número de famílias que recebem o Bolsa Família em Itapetinga vem caindo desde seu pico. Em março de 2023, eram 10.300 famílias. Em novembro de 2025, eram 9.507. Quase 800 famílias a menos no programa em pouco mais de dois anos.
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| Dados do Governo Federal aponta queda de beneficiários por conta da geração de emprego em Itapetinga. |
Essa queda não é um erro. É, na visão de especialistas e da própria lógica do programa, um sinal de sucesso. Ela coincide com a onda de geração de emprego que a cidade vive desde março de 2023, e que teve freios pontuais até outubro de 2025, no último levantamento da Caged do Ministério do Trabalho, que mede o emprego no Brasil. Itapetinga já registra mais de 18 mil trabalhadores com carteira assinada.
Com 287 novas vagas, Itapetinga ultrapassa 18 mil trabalhadores formais só registrados na era José Otavio Curvelo
"O que os números estão gritando é que centenas de famílias conseguiram uma oportunidade no mercado de trabalho que melhorou sua renda a ponto de saírem do cadastro", explica a assistente social da Prefeitura de Itapetinga Maria Oliveira (nome fictício). "O programa fez o papel de rede de proteção e, para essas famílias, agora funciona como um trampolim. Elas 'se formaram' no Bolsa Família. É o objetivo final."
Do Auxílio ao Salário: Um Novo Tempo. Na pracinha do centro, o pedreiro Antônio dos Santos, 38, confirma a teoria. "Recebi Bolsa por uns dois anos, foi o que segurou as pontas quando a obra parou. No começo deste ano, consegui vaga numa construtora aqui da cidade. Assinei a carteira. Aí o benefício foi caindo até cortar. Fiquei triste? Claro que não! Troquei a ajuda pelo meu salário. É outro patamar. Cara, é dobro do dinheiro do bolsa."
Para os que ficaram, o benefício continua sendo a linha que separa a privação da dignidade. E o Vale-Gás, que paga em média R$ 110,00 a cada dois meses, é um alívio direto no orçamento doméstico.
Mais que Assistência, uma Estratégia Econômica. A reportagem mostra que os quase R$ 80 milhões anuais dos programas sociais em Itapetinga são muito mais que assistencialismo. São um investimento estratégico na economia do município. Foi esse dinheiro, circulando mês a mês, que manteve o comércio de pé, garantiu demanda e ajudou a preparar o terreno para a chegada de novos empregos.
Agora, a cidade parece entrar num ciclo virtuoso: o emprego sobe, o número de beneficiários cai, mas o programa segue firme como rede de proteção para quem ainda precisa. É a prova de que, no chão da feira e no caixa do mercado, dinheiro de auxílio social e geração de emprego não são inimigos. São parceiros no difícil caminho de fazer uma cidade crescer sem deixar ninguém para trás. Itapetinga está vivendo, em números e no dia a dia, essa transformação. Dados extraídos do Portal da Transparência do governo Federal.


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