Enquanto o tio, prefeito atual, desmonta a herança do pai em nome de um projeto próprio, o sobrinho, ex-prefeito, se fortalece na esteira da discórdia e pode herdar o que restar da máquina política familiar.
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Sepultamento do ex-prefeito de Itapetinga Michel Hagge. |
A morte do ex-prefeito Michel Hagge no início de outubro foi mais do que uma perda pessoal para o clã político mais influente de Itapetinga. Foi o estopim de um drama que já vinha sendo encenado nos corredores do poder desde o ano passado, e que agora aponta para um desfecho trágico e épico: a dissolução do "gabirabismo", o grupo de fiéis seguidores construído pelo patriarca.
E, na fria equação do poder, a perda pesa muito mais para um lado do que para o outro. O prefeito Eduardo Hagge (MDB), filho de Michel, é o grande perdedor nesta história. Seu sobrinho e antecessor no cargo, Rodrigo Hagge (MDB), emerge não como uma vítima, mas como o herdeiro natural do que sobrou do legado.
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É público e notório: os Hagge estão em pé-de-guerra. A eleição do ano passado, que deveria ser uma passagem de bastão tranquila dentro do mesmo grupo, criou um abismo. De um lado, Eduardo, o tio recém-eleito; do outro, Rodrigo, o sobrinho que governou a cidade por oito anos.
As tentativas de reaproximação são sempre efêmeras. O clima azeda rapidamente, intoxicado pela influência dos novos aliados de Eduardo, que enxergam no ex-prefeito não um colega de partido, mas uma ameaça a ser neutralizada. O atual prefeito, descrito por aqueles que um dia o ajudaram como intransigente, vaidoso e irresponsável, decidiu que era hora de criar seu próprio grupo político. Para isso, começou a desmontar o "gabirabismo" peça por peça.
O plano de Eduardo, influenciado por sua nova corte, é visto por muitos como um desastre anunciado. A lógica é trazer para a Prefeitura figuras da oposição que o enfrentaram nas eleições, enquanto escanteia os gabirabas históricos, leais à memória de seu pai.
A conta, na visão de observadores, não fecha. É uma aposta que troca a base sólida e eleitoralmente comprovada que o elegeu por votos pífios e duvidosos. A ingratidão, como tem sido taxado, pode ser seu pecado político fatal. Ele atrai opositores de pequena expressão e descarta a força das urnas que o levou ao poder, um pacote robusto de vereadores e lideranças com real capilaridade.
Enquanto Eduardo queima pontes, Rodrigo Hagge constrói. Quem governou a cidade por dois mandatos consecutivos já tem raízes profundas. Ele deu suporte ao grupo do avô e, com a expertise de quem conhece o jogo, soube oxigenar o "gabirabismo" com caras novas. Teve a sensatez de recuar a tempo de um projeto de criar um grupo chamado "Saruê", evitando um cisão prematura e maior.
Agora, colhe os frutos. Não há dúvidas: Rodrigo é quem está mais próximo de herdar a maioria do grupo político de Michel Hagge. E sua ambição não para aí. Sondagens por uma futura união com a líder opositora Cida Moura (PSD) ecoam a aliança histórica e imbatível que seu avô fechou outrora com o ex-prefeito e adversário ferrenho José Otavio Curvelo. Uma frente poderosa que pode ser invencível nas eleições de 2026 (deputado estadual) e 2028 (prefeitura).
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A morte do "velho gabiraba", Michel Hagge, é o golpe final. Muitos no grupo tinham lealdade e gratidão pelo patriarca, e não por suas "crias políticas". Sem a figura unificadora, o desmonte gradual é uma realidade inevitável.
Ambos os herdeiros terão que lidar com os escombros, mas em posições radicalmente diferentes. Eduardo, isolado e prestes a sofrer a síndrome de abstinência do gabirabismo que desprezou, colherá as consequências de seus erros. Rodrigo, com sua base consolidada e olho nas alianças do futuro, está não apenas mais protegido, mas na posição de sair fortalecido do naufrágio do grupo que seu avô construiu.
A tragédia familiar deu o veredito final: na política itapetinguense, o sobrinho aprendeu as lições da casa. O tio, parece, ainda está fazendo a lição de casa, e pagará o preço por isso.
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