Prefeito Eduardo Hagge nega trama para cassar vereador Diga Diga, mas aliados já desconfiam

Trama para tentar influenciar na cassação do mandato de vereador oposicionista alerta base aliada que reage com desconfiança e teme novas manobras do prefeito de Itapetinga.

Prefeito Eduardo Hagge nega trama para cassar vereador Diga Diga, mas aliados já desconfiam
Prefeito de Itapetinga é suspeito de tentar influência em julgamento de cassação do diploma do vereador de oposição Diego Rodrigues, o Diga Diga (PSD).

Um enredo digno de novela com trama política abalou os bastidores de Itapetinga nesta semana. Um suposto ofício, sem timbre oficial, mas com carimbo de protocolo do Palácio de Ondina, teria sido enviado ao governador Jerônimo Rodrigues (PT), com um pedido claro e inquietante: que o chefe do Executivo baiano interferisse no processo de cassação do diploma vereador Diego Queiroz Rodrigues, o popular Diga Diga (PSD), em julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O autor do pedido? O prefeito Eduardo Hagge (MDB), ao menos no texto do ofício. Eduardo, porém, nega categoricamente qualquer envolvimento.

Mas as evidências não ajudam sua versão. E a pergunta que ecoa nos corredores do poder local é uma só: se não foi ele, quem foi?

O documento, registrado em 27 de junho de 2025, foi protocolado na Secretaria do Governo da Bahia com uma redação inusitada. Sem assinatura ou qualquer marca oficial da Prefeitura de Itapetinga, o ofício ainda assim fala em nome do prefeito e faz um apelo explícito: manter a cassação de Diga Diga, já decidida em segunda instância pelo TRE-BA, agora em fase de recurso para julgamento no TSE.

“Reforçamos a relevância de que sejam adotadas as medidas cabíveis...”, diz o texto, referindo-se ao governador como peça-chave para garantir o fim do mandato do vereador oposicionista.

A resposta veio dias depois, pela Procuradoria Geral do Estado. A procuradora Sissi Andrade Macedo foi taxativa: o governo da Bahia não pode, e não vai, se envolver. Mas um detalhe expôs ainda mais o suposto envolvimento de Eduardo Hagge: a PGE só respondeu porque havia, segundo apuração, "outra autoridade por trás do pedido".

E quem seria essa autoridade, senão o próprio prefeito?

Um caso que tem potencial criminoso, que até então circulava nos bastidores, tomou o centro do debate político local. E nos bastidores da base aliada de Eduardo Hagge, o clima é de apreensão e desconfiança. Um vereador, em anonimato, confidenciou:

"A versão de inocência do prefeito é difícil de engolir."

A tentativa de afastar Diga Diga seria parte de uma jogada estratégica: abrir espaço para o suplente Valdeir Chagas (PSD), ex-opositor que recentemente migrou para a base governista. Uma troca política silenciosa, mas potencialmente devastadora para pretensão do vereador Valquírio Lima, o Valquirio (MDB), que liderar um grupo de vereadores que pode colocar a gestão Eduardo de joelhos.

Governador rejeita pedido do prefeito de Itapetinga para derrubar vereador Diga Diga no TSE (Click Aqui) 

Segundo vereadores da base descontente do prefeito na Câmara de Itapetinga, o jogo feito para derrubar Diga Diga, tem proposito claro: eleger Tiquinho Nogueira (PSD), próximo presidente do legislativo

Agora, aliados temem ser os próximos alvos. “Se fizeram isso com Diga Diga, quem garante que não farão comigo?”, disse outro vereador, em reserva. O silêncio do Palácio de Ondina sobre por que respondeu a uma carta sem autoria clara também ajuda a aumentar as suspeitas.

O vereador Diga Diga, foco da tentativa de cassação, não ficou calado, disparou crítica com desconfianças no plenário da Câmara na sessão da quarta-feira, 6. O que obrigou o governo municipal a dá explicações ao opositor que cobrou esclarecimentos. Segundo fontes próximas ao parlamentar, o secretário de Governo Geraldo Trindade se viu encurralado e não soube explicar quem teria enviado o documento.

Mesmo assim, Trindade tentou aliviar a tensão, dizendo que Eduardo Hagge seria “incapaz de tamanha baixaria”, por ser "inexperiente na política". A defesa soou mais como desculpa frágil do que como argumento de fato.

O episódio trouxe à tona o lado mais obscuro da política municipal. O uso (ou tentativa de uso) de influência política para interferir num julgamento judicial não é apenas imoral, é crime, previsto como coação no curso do processo, no Código Penal.

Se for comprovado que Eduardo Hagge redigiu ou mandou entregar o ofício, poderá enfrentar uma denúncia formal. Mas, mesmo que juridicamente se proteja, o dano político está feito.

A tentativa frustrada de apressar o julgamento para cassar Diga Diga pode ter enterrado de vez a confiança em torno do prefeito. E o pior: criou fissuras em sua base de apoio, fissuras que podem se tornar rachaduras.

Em Itapetinga, onde a linha entre o jogo político e o jogo sujo parece cada vez mais tênue, a novela está longe do fim.

É trama, é vida que segue...