Por que as bets desistiram da loteria municipal em Itapetinga?

Investidores do setor de apostas esportivas estiveram na cidade, mas desistiram de uma loteria municipal. Motivos, instabilidade política, medo de reação do comércio e a existência do IDenuncias.

Por que as betes desistiram da loteria municipal em Itapetinga?
Empresas de Bets encontra obstáculos políticos em Itapetinga para implantarem as apostas online.

Uma movimentação discreta de representantes de supostas empresas de apostas esportivas, as famosas Bets, colocou Itapetinga no radar do polêmico mercado de jogos de azar. A intenção era sondar a viabilidade de implantar uma loteria municipal na cidade, um modelo que tem se espalhado por pequenos municípios brasileiros, mas que é alvo de questionamentos legais e investigações por lavagem de dinheiro.

No entanto, após visitas e conversas iniciais há cerca de três meses, os emissários dos empresários recuaram. A reportagem apurou, com base em fontes ouvidas sob anonimato, que a desistência está diretamente ligada ao cenário político local e a potenciais obstáculos que dificultariam a aprovação do projeto na Câmara de Vereadores de Itapetinga.

O que a Câmara de Vereadores tem a ver com isso? TUDO! Segundo as fontes, o plano dependia de uma engrenagem bem oleada. Primeiro, os representantes das Bets teriam que convencer o prefeito Eduardo Hagge (MDB) sobre os supostos benefícios da medida, principalmente a arrecadação milionária de impostos para os cofres municipais. Acreditava-se que, uma vez convencido, Eduardo levaria a proposta aos vereadores para aprovação.

A peça-chave estaria na base do legislativo. As fontes são taxativas: os interlocutores das Bets acreditavam que seria fácil oferecer barganhas em troca de votos, partindo do princípio de que os edis "aceitariam bancar a aprovação do projeto de lei". Porém, o que assustou os investidores foram as "brigas internas no poder municipal" e a instabilidade política, com uma possível perda de controle do prefeito sobre a Câmara.

Medo da reação do comércio e de um site de notícias independente. Outro fator de preocupação foi o temor de uma reação forte do comércio local. Os interlocutores dos empresários de Bets calcularam que, mesmo com o apoio de alguns vereadores, estes poderiam não suportar a pressão de lojistas organizados, por exemplo, através da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas). O argumento seria que as Bets desviariam para os sites de apostas uma parte do dinheiro que circularia no comércio físico da cidade.

Um elemento inesperado também pesou na decisão: a existência do site de notícias IDenuncias. Na avaliação dos representantes, a presença de um veículo independente, que eles não conheciam e com quem não teriam como "negociar", poderia atrapalhar o projeto. Eles temiam que publicações negativas sobre o assunto gerassem um rebuliço na opinião pública e chamassem a atenção da comunidade, especial, a evangélica, inviabilizando a operação.

O Caso de Bodó–RN: O "Paraíso das Bets" que virou alvo da justiça, deve servir de modelo, o que não pode em Itapetinga, quando uma loteria municipal que tentaram emplacar aqui é semelhante ao adotado pela prefeitura de Bodó–RN, que se tornou um caso nacional de supostas irregularidades.

Em Bodó, a prefeitura cobrou apenas R$ 5 mil pela licença para operar, um valor irrisório perto dos R$ 30 milhões cobrados pelo governo federal. Isso atraiu 43 empresas que faturam quase meio bilhão de reais em uma cidade de poucos menos de 3 mil habitantes, muitas delas, segundo o Ministério Público do Rio Grande do Norte, registradas em endereços falsos e usadas para lavagem de dinheiro, possivelmente para as organizações criminosas.

A Justiça do RN determinou recentemente o bloqueio de R$ 145 milhões em bens de pessoas envolvidas no esquema. O promotor Augusto Lima, chefe do Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro do MP-RN, afirmou que muitas dessas bets eram de fachada e operavam de forma ilegal, enganando os consumidores. A prefeitura de Bodó foi notificada pelo Ministério da Fazenda, que considera a regulamentação municipal ilegal.

E Agora? Os representantes das Bets que estiveram em Itapetinga chegaram a se hospedar em Vitória da Conquista e mantiveram contato com influencers locais de apostas no Instagram por rifas. Chegaram a sair otimistas após conversas com um vereador da cidade, acreditando que a Câmara "toparia" a aprovação de uma lei.

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No entanto, a descoberta de casos como o de Bodó, somada à recente declaração do governo Lula de que a prerrogativa sobre jogos de azar é dos estados e da União sendo proibida para municípios, e as crescentes suspeitas de ligação dessas empresas com o crime organizado, tornaram o ambiente muito mais arriscado.

Por enquanto, a ideia de uma loteria municipal em Itapetinga foi deixada de lado, já que os representantes das apostas não retornaram. Mas segundo as fontes não descartam um retorno no futuro, caso o cenário seja mais favorável a eles. 

Enquanto isso, a cidade segue como um ponto observado no mapa de expansão dessas empresas, um jogo de altos riscos que envolve muito dinheiro, a política sempre se entendem.