Documento revela tentativa do prefeito Eduardo Hagge de pressionar o governador Jerônimo Rodrigues para interferir em julgamento no TSE contra vereador opositor.
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Governador responde carta do prefeito de Itapetinga sobre pedido de interferência na justiça eleitoral. |
Uma história inusitada de bastidores políticos sacudiu o cenário de Itapetinga (BA) nesta quarta-feira, 6. Um ofício supostamente entregue pelo prefeito Eduardo Hagge (MDB) ao governador Jerônimo Rodrigues (PT) revelou um pedido explícito para que o chefe do Executivo baiano interferisse em um processo de cassação contra o vereador Diego Queiroz Rodrigues, o Diga Diga (PSD), no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O documento, que circulou nos meios políticos, solicita "especial atenção" do governador para ajudar a confirmar, no TSE, a cassação do mandato de Diga Diga, já decidida em segunda instância pelo Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA). O caso tramita no TSE sob o processo nº 0600557-19.2024.6.05.0140, tendo como relator o ministro Floriano de Azevedo Marques.
O ofício chama atenção não apenas pelo conteúdo, mas também pela forma: não possui timbre oficial da Prefeitura de Itapetinga nem assinatura do prefeito. Ainda assim, foi protocolado oficialmente por agentes do Palácio de Ondina, conforme carimbo da SEDOC/SEPAR/GABGOV, datado de 27 de junho de 2025, às 17h. Veja a carta oficio:
Suposta carta do prefeito de Itapetinga entregue ao govrndor da Bahia.
No texto, o prefeito Eduardo Hagge se dirige ao governador pedindo interferência no julgamento do vereador oposicionista:
“Cumprimento Vossa Excelência, venho, na qualidade de Prefeito de Itapetinga-BA, solicitar especial atenção no acompanhamento do processo nº 0600557-19.2024.6.05.0140, no qual já foi declarada, por unanimidade, a cassação de diploma junto ao Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA), e que atualmente se encontra em grau de recurso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).”
A situação se agrava no segundo parágrafo, onde o prefeito de Itapetinga praticamente solicita que o governador atue para garantir a manutenção da cassação juntos ao Ministros do TSE:
“Diante da importância desse tema para a lisura e a estabilidade democrática no nosso município, reforçamos a relevância de que sejam adotadas as medidas cabíveis, no âmbito de suas competências, para que se mantenha a decisão já proferida pelo TRE-BA.”
O episódio, que poderia ter ficado restrito aos bastidores, ganhou contornos mais graves quando a Procuradoria Geral do Estado (PGE), através da procuradora Sissi Andrade Macedo, respondeu oficialmente ao ofício em 3 de julho de 2025. Na resposta, a PGE descartou categoricamente qualquer possibilidade de intervenção do governo estadual no caso.
“O Estado da Bahia não é parte no referido processo, tampouco há a presença de agente público estadual a eventualmente ensejar a defesa institucional pela Procuradoria Geral do Estado. [...] Não se identificam relevância, especificidade do tema ou repercussão social aptas a justificar pedido do Estado da Bahia para ser admitido no feito, o que se daria tão somente com o objetivo de reafirmar a decisão já tomada pelo TRE-BA”, escreveu a procuradora.
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Oficio da Procuradoria Geral do Estado da Bahia encaminhado ao Prefeito de Itapetinga. |
A negativa, além de encerrar qualquer expectativa de intervenção política na Corte Eleitoral, deixou clara a tentativa do prefeito de utilizar a estrutura do governo estadual para fins políticos locais uma manobra que, se comprovada, pode configurar crime de coação no curso do processo, previsto no Código Penal.
O objetivo de Eduardo Hagge seria substituir Diga Diga pelo ex-vereador Valdeir Chagas (PSD), atual suplente, que recentemente deixou a oposição para se alinhar à base do prefeito. A estratégia, porém, naufragou após a negativa do governo baiano.
Questionado, Eduardo Hagge nega ter redigido ou encaminhado o ofício. Segundo interlocutores, aliados do prefeito teriam procurado Diga Diga para “esclarecer” que ele não teria envolvimento com a carta entregue ao governador. No entanto, o carimbo oficial de protocolo e a resposta formal da Procuradoria do Estado deixam dúvidas difíceis de dissipar.
O silêncio do Palácio de Ondina sobre como e por que respondeu a uma correspondência não oficializada pela Prefeitura também levanta suspeitas.
Se ficar comprovado que Eduardo Hagge solicitou interferência política no processo de cassação, ele poderá responder por crime de coação com o objetivo de favorecer a si ou a terceiros em decisão judicial, conforme prevê o Código Penal Brasileiro. A denúncia, além de esgarçar a relação entre Executivo municipal e estadual, cria um ambiente de instabilidade política no município.
Por enquanto, a tentativa de manobra foi frustrada. Mas o episódio expôs o submundo da política rasteira em Itapetinga, onde disputas de mandato ultrapassam os limites da legalidade e da ética.
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