Provável aprovação de lei de expansão do município consolidaria acordo que beneficia ruralistas e oneraria cofres públicos, repetindo fracasso do Quintas do Sul.
![]() |
Prefeito de Itapetinga, Eduardo Hagge (MDB), na abertura da Exposição Agropecuária de Itapetinga 2025. |
Em um espetáculo de incoerência que beira o surreal, a Câmara de Vereadores de Itapetinga protagonizou nas últimas semanas aquela que pode ser considerada a peça teatral mais peculiar da política local: o drama do "projeto que ninguém quer, mas que todos aprovam".
A trama começa com o prefeito de Itapetinga Eduardo Hagge (MDB) enviando à Câmara um projeto “esquemão” para transformar áreas rurais em urbanas, o que faria fazendeiros locais a ganhar milhões. Os vereadores, num surto de eficiência incomum, ou de pura malandragem, aprovaram a proposta em tempo recorde, sem a mínima tramitação regular, ignorando solenemente a obrigatoriedade de debates com a sociedade através de audiências públicas conforma determina a legislação para o Plano Diretor Urbano.
Agora vem o plot twist [traduzindo: reviravolta na história] digno de roteiro de comédia: o próprio prefeito, percebendo as grotescas inconstitucionalidades e problemas técnicos apontados por juristas de sua própria equipe, tentou frear a própria criação. Vetou o projeto que ele mesmo concebeu.
E aqui entra o grand finale: os mesmos vereadores que aprovaram o projeto às pressas agora aprovaram o veto do prefeito à sua própria lei. Sim, leitor, você não entendeu mal. É o equivalente político a aprovar um remédio e depois aprovar o antídoto, sem que ninguém tenha sequer adoecido.
Enquanto isso, as áreas escolhidas para essa expansão milagrosa ficam próximas ao Rio Catolé, justamente as mesmas localidades que recentemente sofreram com enchentes devastadoras. A administração municipal, em sua sábia visão urbanística, parece acreditar que a solução para áreas alagadiças é... mais concreto.
O rio, que já caminha a passos largos para se tornar uma versão itapetinguense do poluído Tietê paulistano, com seu coquetel de assoreamento, esgoto e desmatamento, parece ser visto pelas autoridades não como um problema, mas como um detalhe paisagístico.
Não é difícil decifrar o quebra-cabeça: transformar terras rurais de fazendeiros em áreas urbanas supervalorizadas é a receita infalível para criar fortunas da noite para o dia. Enquanto isso, o município, leia-se, os contribuintes, herdará a conta da infraestrutura necessária: esgotamento, água, pavimentação e, claro, as inevitáveis obras de drenagem para tentar conter as enchentes que certamente virão.
Itapetinga já tem um preview desse futuro glorioso no bairro Quintas do Sul, onde as promessas de infraestrutura ruíram junto com a qualidade de vida. Ruas mal planejadas, pavimentação caótica e alagamentos constantes servem como monumento à incompetência planejadora.
Eduardo Hagge banca briga de vereadores contra Itapetinga por nome de sogro no bairro Quintas do Sul (Click Aqui)
O aspecto mais revoltante dessa farsa não está no conteúdo duvidoso do projeto, nem mesmo na gangorra de decisões contraditórias. Está no completo desprezo pelo processo democrático. Não houve audiências públicas, não houve debate transparente, não houve qualquer consulta à população que arcará com as consequências dessas decisões.
Os vereadores, que deveriam zelar pelos interesses da população, operaram nas sombras tanto na aprovação relâmpago quanto na aprovação do veto. O prefeito, que deveria liderar com coerência, acabou refém de sua própria criação mal planejada.
Enquanto isso, Itapetinga assiste perplexa a esse teatro do absurdo, onde o crescimento urbano é tratado como jogo de tabuleiro e os cidadãos, como meras peças a serem movidas pelos interesses de alguns privilegiados.
Nesse drama das malandragens, quando a população deixará de ser plateia e assumirá o papel de protagonista nessa história? Quer uma sugestão Itapetinga?: “mete o dedo neles. Upsss... dedo, nas urnas.”
É Itapetinga, é esquemas, é vida que segue...
Social Plugin