É puro puxa-saquismo: vereadores querem destruir o legado de Espinheira para homenagear Michel

Vereadores em Ação: Trocar a História por Puxa-Saquismo?

É puro puxa-saquismo: vereadores querem destruir o legado de Espinheira para homenagear Michel
Na Imagem: Ex-prefeito de Itapetinga José Vaz Espinheira e o ex-prefeito Michel Hagge falecido no início de outubro.

Um projeto de lei tramita na Câmara de Itapetinga e é um exemplo cristalino de como a miopia política e o puxa-saquismo podem tentar apagar a história de uma cidade. A manchete não poderia ser mais direta: “É puro puxa-saquismo: vereadores querem destruir o legado de Espinheira para homenagear Michel.”

A irresponsabilidade, sozinha, já seria condenável. Mas o que se vê vai além: é a institucionalização da bajulação, um modus operandi que parece ter fincado raízes no legislativo municipal desde que o clã Hagge assumiu o executivo. O Projeto de Lei 80/2025, assinado por 15 vereadores, propõe trocar o nome do Parque Poliesportivo da Lagoa José Vaz Espinheira para Michel Hagge, falecido em outubro.

Na visão distorcida desses parlamentares, apagar o nome de Espinheira é um ato corriqueiro. Na realidade, é tentar apagar a própria fundação do Itapetinga moderno. José Vaz Espinheira não foi um gestor qualquer; foi um visionário. Enquanto a cidade tinha menos de 25 mil habitantes, ele projetou um sistema de abastecimento de água (o SAAE) para suprir mais de 50 mil. Foi criticado na época por "sonhar alto". Hoje, Itapetinga beira os 70 mil habitantes, e a água que chega às torneiras tem a ver com essa visão.

A lista de obras é monumental: o sistema de esgotamento que perdura por décadas, o desenho urbano que deu à cidade uma das maiores quantidades de praças e jardins da Bahia, a revolução educacional que levou escolas à zona rural e criou programas de alfabetização para adultos. Espinheira não apenas administrou; ele planejou e construiu as bases do que a cidade é hoje.

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E o legado não para na gestão pública. Foi ele quem elevou Itapetinga ao status de capital da pecuária baiana. Trouxe dos Estados Unidos conhecimento que transformou a criação de gado na região. Sua ligação com a cidade americana de Dairy Valley, na Califórnia, um vilarejo que mais tarde se fundiria para se tornar Cerritos, em uma área de grandes criadores, foi tão forte que resultou em um acerto de irmandade. O nome "Dairy Valley" soa familiar? É o da nossa praça central, a "praça dos bois", uma homenagem que atravessa gerações e oceanos.

Cidade Corritos na Califórnia, EUA, nascida na fusão com vilarejo Dairy Valle, localidade norte América que leva o nome da praça principal de Itapetinga em um convênio da década de 60. 

Pois é justamente essa história que os vereadores, em sua ânsia de agradar, também querem rasgar. Em um ato de incoerência histórica gritante, o Projeto de Lei 79/2025, do vereador Anderson da Nova (União Brasil), propõe renomear a Praça Dairy Valley, que homenageia essa conexão internacional há mais de 50 anos, para também se chamar Michel Hagge.

Não se trata de desrespeitar a memória do ex-prefeito Michel Hagge, mas de questionar a sanidade de uma homenagem que vem às custas do apagamento de um legado fundador. É a mediocridade tentando sobrepor-se à grandeza. É trocar a história viva de um planejador que olhou para o futuro por um puxa-saquismo sistêmico que só enxerga o poder do momento.

Itapetinga merece respeito. E respeitar sua história é honrar os homens que, como Espinheira, tiveram a coragem de construir o amanhã. Destruir esse legado não é homenagem; é pura e simples negligência com a própria identidade da cidade.