A desagregação da base. Eduardo Hagge vive uma ruptura anunciada.
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Plenário da Câmara Municipal de Itapetinga. |
"É fácil ter maioria no Parlamento, o difícil é mantê-la como aliada por quatro anos." A frase do lendário político falecido Leonel Brizola, mestre na arte de governar, ressoa como uma profecia na Câmara de Itapetinga. Agora, o prefeito Eduardo Hagge colhe os frutos amargos de seu desprezo pelos aliados que um dia o levaram ao poder.
O que antes parecia uma base sólida de apoio transformou-se em um campo minado de insatisfações. Parlamentares que carregaram a campanha do prefeito nas costas, hoje, se veem escanteados, enquanto antigos adversários políticos ganham espaço, cargos e influência na estrutura da administração.
Nos bastidores, o clima é de revolta. Vereadores que até então sustentavam o governo começam a questionar: vale a pena seguir aliados de um prefeito que, segundo eles, trocou lealdade por conveniência? A acusação, feita em off por membros da base governista, é direta: Eduardo Hagge preferiu acordos obscuros com alguns opositores a manter compromissos com quem esteve ao seu lado desde o início.
A pressão é crescente. Correligionários dos vereadores, aqueles que pedem espaço na Prefeitura, promessas de campanha ou simples reconhecimento batem à porta diariamente, cobrando uma postura mais firme contra o prefeito. A resposta de Eduardo, porém, tem sido o silêncio ou, pior, a indiferença. "Ele finge que o problema não é com ele", dispara um vereador da base, sob anonimato.
A fúria, reprimida por meses, começa a ganhar forma. Já há, inclusive, um movimento para exigir a cabeça do secretário de Governo, Geraldo Trindade, figura central na articulação política do Executivo. O gesto seria uma forma de abrir um canal de diálogo até agora inexistente com o prefeito. Mas, mesmo sob pressão, Eduardo ignora os sinais de desgaste.
Por ora, os vereadores descartam um rompimento formal. A estratégia é outra: impor independência dentro da Câmara. Projetos de interesse do Executivo passarão a ser analisados caso a caso, voto a voto, como forma de retaliação política e tentativa de reequilibrar forças. Para muitos, essa “independência estratégica” aliviará a cobrança de suas bases, que os acusam de submissão a um governo que os abandonou.
O primeiro recado dos vereadores descontentes pode vir após o recesso parlamentar, em agosto, com a derrubada de um veto a um projeto de lei populista: o Marmita Solidária, programa de distribuição de alimentos para famílias em extrema vulnerabilidade social, de autoria do vereador aliado Valquírio Lima, o Valquirão (MDB).
Vereadores querem a cabeça de Geraldo Trindade e já articula derrubada de veto de Eduardo Hagge como resposta (Click Aqui)
De certo, a conta chegou. O grupo que antes sustentava o Gabiraba 3 agora está no limite. Sedentos por um troco ou ao menos por respeito, os vereadores avaliam o custo político de manter uma aliança com um prefeito que os trata como descartáveis.
Eduardo Hagge, que talvez um dia tenha acreditado que política se resume a poder, descobre agora uma das verdades mais duras do ofício: política é, acima de tudo, sobre lealdade e uma vez perdida, dificilmente se reconquista.
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