Sucessor de Luciano Almeida herda legislativo sem dinheiro, rachado por traições e envolto em suspeitas de rachadinhas e contratos obscuros; a missão é reatar alianças com um prefeito investigado e sobreviver à própria base.
![]() |
Vice-presidente, Neto Ferraz (PDT), deve assumir a presidência da Câmara de Itapetinga após renúncia de Luciano Almeida (MDB). |
A partir de segunda-feira (20/10), o vice-presidente Neto Ferraz (PDT) poderá assumir o comando da Câmara Municipal de Itapetinga, ser caso, presidente volte atrás da renúncia, porém, o cargo que herdará está longe de ser um troféu. É uma herança maldita: os cofres estão vazios, as paredes estão rachadas por brigas internas e o ambiente é intoxicado por acusações de infidelidade política e traições. O legado que o presidente renunciante, Luciano Almeida (MDB), deixa para o colega de partido é uma crise em múltiplas frentes.
A renúncia de Almeida é o epílogo de um curto e conturbado mandato, iniciado em janeiro/2025, após uma eleição interna da Mesa Diretora que, longe de unir, rachou o MDB governista e jogou a Casa em uma guerra judicializada, a CPI que investiga o próprio prefeito Eduardo Hagge (MDB).
O ‘Presentão’ de R$ 500 mil: a estranha renúncia de Luciano Almeida e a limpa nos cofres da Câmara de Itapetinga.
A primeira batalha de Neto Ferraz será contra números vermelhos. Seu antecessor, em uma decisão que gerou perplexidade, optou por devolver R$ 500 mil do legislativo à Prefeitura, raspando os cofres da Câmara e deixando um rastro de problemas estruturais e administrativos. Sem dinheiro, o novo presidente deve começar de joelhos.
Mas uma possível crise financeira é só a ponta do iceberg. Neto herda uma teia de acordos de bastidores que elegeram Luciano Almeida. Para garantir os votos necessários, cargos comissionados, aqueles de livre nomeação do presidente foram distribuídos como moeda de troca. Segundo Fontes, muitos desses cargos foram entregues a "laranjas" de vereadores da Mesa, um esquema clássico de barganha política que agora precisa ser desmontado.
O drama político, porém, tem um personagem central que não é o presidente que sai, mas um aliado que ficou com todo o poder: o vereador Tiquinho Nogueira (PSD). Na negociação pelos votos que levaram Luciano à presidência. Tiquinho conseguiu uma façanha impressionante: capturou para si quase todas as assessorias comissionadas.
A barganha foi tão extrema que o próprio presidente Luciano Almeida foi deixado com apenas uma assessoria, sem nenhum assessor experiente para ajudá-lo a conduzir os trabalhos. Fontes internas revelam que os cargos de respaldo do presidente estavam sendo ocupados por "laranjas" para um possível esquema de rachadinhas, onde parte dos salários dos funcionários laranjas é desviada.
Luciano, engolido pelos próprios acordos que fez, tornou-se uma figura decorativa, incapaz de administrar o poder que detinha nominalmente. Agora, Neto Ferraz precisa desarmar essa bomba.
O presidente da Câmara que preferiu ser copeiro do prefeito de Itapetinga.
A lista de tarefas do novo presidente é uma prova de fogo. Ele terá que passar o rodo nos cargos comissionados, fazendo uma limpeza geral e uma redistribuição que inclua o grupo adversário interno, supostamente liderado pelo vereador Valquirio Lima (MDB). Também será necessário um pente-fino nos contratos suspeitos fechados por Almeida.
Sua tarefa mais crucial, porém, será fazer o prefeito Eduardo Hagge, o "Tiozão" de campanha, sentar à mesa de negociações. Neto precisa mediar a relação desgastada entre o Executivo e os vereadores do próprio MDB, que protagonizam a CPI contra o prefeito. Antes mesmo de enfrentar o prefeito, porém, Neto terá uma batalha épica interna para retomar o controle das assessorias, hoje um feudo do vereador Tiquinho Nogueira.
O cenário é uma armadilha para o novato. Especialistas em política local alertam que Neto Ferraz não pode repetir os "erros primários" de Luciano Almeida, que "se entregou aos malandros do legislativo". Para sobreviver e ter alguma chance de sucesso, ele precisará de uma equipe competente e experiente ao seu lado, que entenda o jogo de poder da Casa.
De chefe da Câmara para subalterno do prefeito: a possível renúncia de Luciano Almeida para ser secretário.
Caso contrário, corre o risco de ser engolido pela mesma máquina que mastigou e cuspiu seu antecessor, tornando-se mais um nome na lista de presidentes que, na prática, nunca comandaram coisa alguma. A posse de Neto Ferraz não é um novo começo, mas a tentativa de evitar um colapso total.
É jogo de poder, é Itapetinga, é vida que segue…
Social Plugin