Presente de grego: gesto 'nobre' de devolver verba esconde sucateamento da Câmara e a verdadeira moeda por uma Secretaria.
![]() |
Devolução do dinheiro da Câmara de Itapetinga para Prefeitura antes do prazo legal de fim de ano levanta suspeita de barganhas. |
O que deveria ser comemorado como um ato de grandeza e responsabilidade com o dinheiro público, na verdade, esconde uma sucessão de fatos estranhos e mal explicados que cheiram a uma manobra política bem cínica.
A história é essa: o presidente da Câmara de Itapetinga, Luciano Almeida, não é simplesmente um gestor que, num surto de eficiência, achou meio milhão de reais esquecido. Ele é um político em mudança: está saindo da presidência da Câmara para, de repente, assumir o cargo de secretário municipal de Infraestrutura com o prefeito, que é do mesmo partido.
O comunicado oficial é cheio de hipocrisia. Fala em "marco histórico" e "nova cultura administrativa", um discurso que engana quem não presta atenção e envergonha quem consegue ler as entrelinhas.
A pergunta que fica é: como uma Câmara Municipal que os próprios vereadores descrevem como precária, com computadores velhos, pátio esburacado e banheiros ruins de repente tem a "sobra" de R$ 500 mil para devolver à Prefeitura?
O presidente da Câmara que preferiu ser copeiro do prefeito de Itapetinga.
A resposta parece estar nos bastidores. Tudo indica que a verdadeira moeda de troca nesse acordo foi o dinheiro público em troca do cargo. Luciano, que é agrônomo, assume uma secretaria que, em tese, precisaria de um engenheiro. Mas, pelo visto, a qualificação necessária não é técnica, e sim política: a habilidade de "limpar" os cofres do legislativo para presentear o prefeito.
A coincidência é impressionante. O presidente, nos últimos dias de seu mandato, entrega meio milhão "de mão beijada" ao prefeito e, logo em poucos dias, será anunciado como o novo secretário. Chamar isso de "cooperação" é um eufemismo enorme. O nome correto é tráfico de influência e uso do dinheiro público para barganha pessoal.
Enquanto a nota oficial comemora o dinheiro que o Executivo recebeu, os servidores da Câmara se perguntam como suas férias de fim de ano serão pagas. A "limpeza" nos cofres foi tão grande que a Câmara pode ter dificuldades para cumprir suas obrigações mais básicas. O "gesto de cooperação" na prática, é um sucateamento deliberado do próprio Poder Legislativo.
O que se vê em Itapetinga é a clássica operação de "saque e fuga". Luciano Almeida, prestes a trocar de cargo, esvazia os cofres da Câmara em uma manobra disfarçada de virtude, deixando um rastro de problemas para seu sucessor, Neto Ferraz (PDT), que herdará o abacaxi de uma casa depenada.
De chefe da Câmara para subalterno do prefeito: a possível renúncia de Luciano Almeida para ser secretário.
A grande questão, que o Ministério Público deveria investigar, é se esses R$ 500 mil não foram, na verdade, o preço pelo cargo de secretário. Se o dinheiro que deveria melhorar a Câmara não foi usado como moeda de troca em um acordo político às custas do contribuinte.
A "eficiência" e a "transparência" do comunicado oficial são, na verdade, uma pintura para esconder uma operação de desmonte e barganha. É a velha política se passando por nova administração. Enquanto isso, a estrutura da Prefeitura, que já era ruim, continua a mesma. O presente já foi dado. E a conta, como sempre, será paga pelo povo.
É bom lembrar que a saída de Luciano envolve o salvamento do prefeito Eduardo Hagge das investigações de uma CPI, onde o gestor tinha minoria e agora terá maioria para enterrá-la, junto com as suspeitas de tentar cassar um vereador de oposição com um pedido esdrúxulo recusado pelo governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues de interferência em julgamento no Tribunal Superior Eleitoral.
Social Plugin