Luciano Almeida, o homem que podia mandar na Câmara de Itapetinga, deve entregar o cargo de presidente para virar secretário de um prefeito encurralado.
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Rumores apontam para renúncia do vereador Luciano Almeida (MDB), do cargo de presidente da Câmara Municipal de Itapetinga. |
Nos bastidores da política de Itapetinga, o comentário é quase unânime: se for confirmada, a renúncia de Luciano Almeida (MDB) à presidência da Câmara Municipal será o maior revés político dos últimos tempos, uma decisão que choca pela incoerência, pelo momento e pelas consequências que carrega.
Eleito vereador com quase 1.500 votos e depois alçado à cobiçada cadeira de presidente do Legislativo, o segundo maior poder político do município, Luciano parecia traçar uma trajetória de ascensão. Mas, em menos de um ano no comando da Câmara, tudo pode mudar. O presidente estaria disposto a renunciar ao posto de chefe do legislativo para assumir a vaga de secretário de Infraestrutura, hoje desocupada após a "exoneração a pedido" do ex-secretário Billy Gram (União Brasil). A expressão entre aspas não é à toa, nos corredores do poder, há quem diga que a saída de Billy foi apenas o primeiro movimento de um xadrez maior.
Para blindar prefeito e aliados da CPI, presidente da Câmara de Itapetinga avalia renúncia.
Desde a redemocratização do Brasil, ninguém é eleito para ser secretário municipal. Secretário não tem voto. Secretário é nomeado. Secretário não representa o povo, executa ordens do prefeito. E é justamente esse rebaixamento institucional que torna a decisão de Luciano ainda mais difícil de engolir.
Como presidente da Câmara, ele era, politicamente falando, um político poderoso da cidade, porém, fraco no jogo, mas com autonomia para pautar, barrar e até enquadrar o prefeito. O que faz um político com esse poder abrir mão da chefia legislativa para ser, literalmente, subordinado a um gestor pouco confiável na política local?
É bom lembrar: Luciano Almeida foi eleito presidente da Câmara numa manobra que quebrou a base aliada do prefeito Eduardo Hagge (MDB). Para vencer, formou chapa com vereadores da oposição e venceu colegas do próprio partido, o MDB, incluindo nomes de confiança do prefeito. A eleição rachou a base e jogou o prefeito contra parte dos seus aliados históricos, inclusive contra o próprio sobrinho, o ex-prefeito Rodrigo Hagge (MDB), um dos principais responsáveis pela vitória do grupo em eleição municipal passada.
O plano B da renúncia de Luciano é enganar a justiça para salvar Eduardo Hagge da CPI
Agora, dez meses depois e com um ano e dois meses ainda pela frente de mandato na presidência, Luciano estaria prestes a “chutar o balde”. Seria isso uma rendição? Um acordo? Ou uma jogada maior que ainda não está clara?
Para o prefeito Eduardo Hagge, a saída de Luciano da presidência é vista como um possível alívio. Afinal, desde que perdeu o controle do Legislativo, Eduardo amarga algumas derrotas e viu sua governabilidade enfraquecer, especialmente com o avanço da CPI que apura uma possível interferência do gestor municipal junto ao governador da Bahia para cassar o mandato de um vereador de oposição.
Com a renúncia de Luciano, abre-se uma nova vaga no Legislativo: o suplente Pastor Evandro (MDB) deve assumir, reforçando a bancada emedebista no plenário e possivelmente garantindo maioria na CPI, hoje, desequilibrada após a polêmica indicação feita por Luciano de uma vereadora petista à comissão. De uma decisão que pode ser derrubada na justiça a qualquer momento, por não respeita a proporcionalidade partidária de uma bancada de seis vereadores emedebistas, onde, quatro, é desafeto do prefeito.
Curiosamente, o vereador, que foi apontado como principal responsável pela crise entre Legislativo e Executivo, agora pode ser o “remédio” que acalma os ânimos políticos. Mas a que preço? E com qual motivação?
Após manobra para colocar petista em CPI, vereadores querem que a Justiça puna presidente da Câmara de Itapetinga.
Renunciar ao poder para virar subordinado não é um movimento comum na política, onde quase todos sonham em subir, e não descer. Ainda mais quando a presidência da Câmara foi conquistada com muito desgaste, enfrentando aliados, oposição e um prefeito que agora pode voltar a respirar. E quem assume é vice-presidente Neto Ferraz (PDT), um vereador visto pelos colegas de Parlamento, como: 'um cara jeitoso'.
Luciano Almeida continuará vereador, com mandato até 2028, mas sua imagem de liderança independente e ousada ficará marcada por essa escolha que muitos já chamam de bizarra.
A política de Itapetinga continua sendo um palco de surpresas, acordos silenciosos e reviravoltas dramáticas. E como dizem por aí: em Itapetinga, tudo pode acontecer, inclusive o improvável.
É renúncia, é Câmara, é vida que segue…
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