Para blindar prefeito e aliados da CPI, presidente da Câmara de Itapetinga avalia renúncia

Manobra é evitar investigação que mira prefeito Eduardo Hagge por suposto pedido de interferência no TSE; estratégia envolve renúncia do cargo e troca de comando na Câmara para controlar CPI.

Posse do presidente de Câmara de Itapetinga Luciano Almeida (MDB) e do prefeito de Itapetinga Eduardo Hagge (MDB) no plenário do legislativo municipal.

Uma trama política com tons de drama e suspense se desenlaça na Câmara Municipal de Itapetinga. O objetivo: blindar o prefeito Eduardo Hagge e vereadores aliados das investigações de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que está prestes a ser instalada. O plano, considerado esdrúxulo nos bastidores da política, tem como peça-chave a possível renúncia do presidente da Casa, Luciano Almeida (MDB), para assumir um cargo no executivo municipal.

A CPI, batizada de CPI do Diga Diga, foi requerida para investigar um suposto conluio de políticos no poder municipal. O caso gira em torno de uma carta não assinada e sem timbre, supostamente enviada ao governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), pedindo que interferisse em um julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O processo em questão pode cassar o mandato do vereador de oposição Diego Rodrigues, o Diga Diga (PSD).

A Procuradoria-Geral do Estado da Bahia já se manifestou, negando categoricamente o suposto pedido de interferência a favor do prefeito e contra o vereador de oposição. No entanto, o episódio motivou a criação da CPI para apurar os autores da carta.

Após ultimato, MDB e PSD devem ter o controle da CPI do Diga Diga, o prefeito terá minoria (Click Aqui) 

A instalação da CPI só avançou após uma batalha judicial. O presidente Luciano Almeida se recusou a instalá-la, mas vereadores de oposição, liderados por Sidinei do Sindicato (MDB), recorreram à Justiça. A decisão, que passou pela primeira instância e foi referendada por um desembargador do Tribunal de Justiça da Bahia, deu um prazo de 10 dias úteis para a instalação da comissão, que vence na próxima terça-feira (30/9). A partir dessa data, Almeida pagará uma multa diária de R$ 5 mil por descumprimento.

Sem mais alternativas legais para adiar a CPI, entrou em cena um plano de contenção de danos.

A articulação, discutida em gabinetes da prefeitura, é complexa e envolve um sacrifício incomum: a renúncia de Luciano Almeida à presidência da Câmara para assumir o cargo de secretário municipal de Infraestrutura.

Pela lei, um presidente da Câmara só pode licenciar do cargo por questões de saúde. Ao assumir um cargo no executivo, Almeida perderia automaticamente a presidência, mas manteria sua cadeira como vereador.

A saída de Almeida do comando do legislativo acionaria uma engrenagem política. Quem assumiria a presidência seria o vice, Neto Ferraz (PDT). No entanto, o cerne da manobra está na vaga de vereador. Com o afastamento de Almeida para a secretaria de Infraestrutura, assumiria o primeiro suplente do MDB, o Pastor Evandro.

A dupla derrota na Justiça mostra o medo que o prefeito e os vereadores têm da CPI do Diga Diga (Click Aqui) 

Aqui reside o ponto crucial: o MDB tem direito a duas vagas na CPI. Atualmente, uma delas seria da vereadora Manu Brandão. Com a entrada do Pastor Evandro, supostamente aliado do prefeito, o grupo governista formaria maioria na comissão de investigação, que teria como presidente o oposicionista Sidinei do Sindicato (PSD). Dessa forma, os relatórios e o andamento das investigações poderiam ser controlados para "enterrar" as provas que miram o prefeito Hagge e seus aliados. Atualmente o MDB está rachado, de uma bancada de 6 vereadores o prefeito só conta com apoio de dois emedebistas.  

A estratégia é considerada inédita nos legislativos municipais do Brasil. Não há registros de um chefe de um dos poderes (nesse caso, o Legislativo) abandonar o cargo para assumir uma função hierarquicamente inferior no Executivo, em uma clara manobra de bastidor.

A tensão é palpável. De um lado, a oposição alerta para um golpe contra a investigação. De outro, o prefeito e seus aliados se movimentam nos corredores do poder para evitar que a CPI revele os fios de uma trama que pode ter ligações diretas com a Prefeitura municipal.

O desfecho dessa trama política deve ser conhecido nos próximos dias, definindo se a investigação seguirá seu curso ou será abortada por uma manobra que já nasce sob o signo da denúncia e do drama.

É IDenuncias, é trama, é vida que segue...