O dia em que as cabeças gabirabas rolaram em Itapetinga.
![]() |
Prefeito de Itapetinga Eduardo Hagge prioriza demissões em massa de aliados da eleição municipal do ano passado. |
Se Itapetinga fosse um seriado, a segunda temporada seria digna de um roteirista com crise de criatividade e um estoque generoso de ponto de virada. A trama, que já teve pai, filho e até um sobrinho no comando da prefeitura, entra em seu capítulo mais sangrento: o expurgo. E a manchete não poderia ser mais sugestiva: “Nas demissões, prefeito Tiozão prioriza as cabeças gabirabas”.
Quem é o “Tiozão”? Ninguém menos que o prefeito Eduardo Hagge (MDB), o elo perdido, ou talvez não tão perdido assim, de uma dinastia política que resolveu trocar a sucessão pacífica por uma guerra interna de proporções, até então imaginária. O plano, sussurrado nos corredores do poder municipal, é simplesmente brilhante na sua ousadia traiçoeira. Com a desculpa de “ajustar as contas públicas”, aquela velha conhecida que sempre serve de mote para acertos de conta particulares, cerca de 450 cabeças vão rolar a partir de 01 de outubro.
Aqui começa a comédia. O alvo preferencial não são os opositores de outrora. Longe disso! A guilhotina está afiada para ceifar justamente as cabeças dos “gabirabas”. E quem são esses coitados? A própria base que ergueu o trono do prefeito! Uma horda política criada por seu pai, o ex-prefeito Michel Hagge, a qual, num passado não muito distante, ou melhor dizendo ‘ano passado’, foi instrumental para colocar o filho no comando. É o equivalente político a usar a escada para subir e, ao chegar, chutá-la com ódio e má-fé.
A motivação? Puro e simples desejo de poder. Eduardo Hagge, em sua fase “Renascença do Tiozão”, decidiu que quer um grupo que seja “chamado de seu”. Quer lealdade a ele, e não ao clã Hagge. É uma espécie de “joelhou, tem que rezar… para mim, e só para mim”. Nessa lógica implacável, os gabirabas, fiéis ao patriarca Michel e ao sobrinho e ex-prefeito Rodrigo Hagge, tornaram-se peças descartáveis. A traição, portanto, é dupla: ao pai e ao sobrinho. Uma rivalidade familiar digna de ‘Game of Thrones’ traduzindo [guerra dos tronos] no interior baiano.
Mas toda operação de expurgo precisa de seus carrascos. E o prefeito não economizou na escolha. No comando da “guilhotina ceifadora” estão duas figuras no mínimo curiosas.
Não é oposição que decretará o fim dos gabirabas, e sim sua própria cria (Click Aqui)
O primeiro é o esperto ex-vereador Gildásio Queiroz (DC), um “conselheiro mor” com um histórico que o qualifica perfeitamente para a tarefa. Gildásio é um ex-gabiraba que, no passado, já deu suas escapadas traiçoeiras. Quando vereador, virou as costas para Michel Hagge e se alinhou ao então prefeito José Otávio, justamente o candidato que havia derrotado o apadrinhado de Michel. Ou seja, o homem é um especialista em mudar de lado na hora certa. Quem melhor para identificar e eliminar os gabirabas remanescentes do que um que já foi um?
O segundo carrasco é o secretário de governo, Geraldo Trindade (MDB), elevado à condição de “primeiro-ministro” do município. Ele é o executor prático, o braço forte que assina os papéis com uma mão enquanto a outra empunha a lâmina metafórica.
E o que vem depois do banho de sangue? Aí é que a trama fica ainda mais cômica. O plano é, a partir de janeiro, abrir as portas da prefeitura para… ex-opositores! Sim, a mesma turma que, na eleição passada, votou contra o Tiozão Eduardo Hagge e apoiou a líder opositora Cida Moura. Pessoas que, segundo os estrategistas do prefeito, demonstraram tanta “força eleitoral” que não conseguiram eleger nem a si mesmas como vereadores.
Demissão de 450 contratados ameaça ‘plano de empreguismo’ de Eduardo Hage para ex-opositores (Click Aqui)
É trocar uma base que vota por uma que, teoricamente, não elegeu quase nada. Uma jogada de mestre para construir uma “base sólida e confiante para 2028”. Ou, nas palavras do povo, é o velho e conhecido centrão municipal, que troca a oposição por um cargo comissionado.
Resumindo a ópera bufa itapinguense: o prefeito, para se afirmar, demite os aliados do pai e do sobrinho, sob a batuta de um traidor experiente, para no lugar colocar ex-adversários com votação pífia. É a política da vingança, da rivalidade familiar e da traição, tudo temperado com um ajuste fiscal que cai como uma luva para a engenharia política.
Fiquem ligados. A temporada de demissões só começa em outubro, mas a temporada de traições em Itapetinga está com rating lá em cima. E as melhores cabeças, as gabirabas, é claro, estão a ponto de rolar.
Social Plugin