O ciclo se fecha: a criatura se volta contra o criador, e os Gabirabas tombam por dentro.
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Prefeito de Itapetinga, Eduardo Hagge (MDB), em lançamento de candidatura na área de eventos do Gabirabão. |
A história política de Itapetinga parece estar prestes a testemunhar um capítulo final surpreendente e amargo. E não será a oposição que irá encerrar o reinado do clã Hagge, também conhecidos como “Gabirabas” que de altos e baixos dominam a política da cidade por mais de quatro décadas. O fim, ao que tudo indica, virá de dentro, com o golpe mais duro partindo de onde menos se esperava: da própria família Hagge.
Tudo começou em 1986, quando o ex-prefeito Michel Hagge (MDB), hoje quase centenário, ergueu um grupo político chamado “gabirabas”, um movimento de fiéis seguidores que atravessou gerações. Foi ele quem pavimentou o caminho para o neto Rodrigo Hagge (MDB) chegar à Prefeitura, eleito por duas vezes, e governou entre (2017–2024), com apoio de alianças poderosas, inclusive de adversários históricos, como o médico e ex-prefeito José Otávio Curvelo (antes Democratas, hoje, União Brasil).
Essa aliança firmada entre MDB e União Brasil foi decisiva. O jovem Rodrigo, então advogado, venceu uma disputa interna contra o experiente pecuarista Renan Pereira (União Brasil), que já havia sido vice-prefeito por dois mandatos e era o nome natural para 2024. Mas Rodrigo quis mais: quis eternizar os Hagge no poder.
E foi aí que o erro nasceu.
Numa jogada de risco, Rodrigo ignorou o acordo interno e, por pura insistência familiar, indicou seu próprio tio, Eduardo Hagge (MDB), como sucessor na disputa à prefeitura. Com uma imagem pública de homem simples, “honesto” e trabalhador, Eduardo, apelidado de o Tiozão, ou “EduCoração”, foi moldado eleitoralmente como o herdeiro natural do legado Hagge. E, com muito esforço de aliados e a fidelidade da base gabiraba, conseguiu vencer, em disputadíssima, a líder da oposição, Cida Moura (PSD).
Para formar novo grupo, Eduardo Hagge rompe com gabirabas e abre os braços para opositores (Click Aqui)
Mas bastaram os fogos da vitória se apagarem para a verdadeira face de Eduardo surgir.
A primeira grande decepção veio logo na diplomação dos eleitos, na Câmara de Itapetinga: Eduardo Hagge não citou, nem uma única vez, o nome do sobrinho Rodrigo, seu mentor e responsável direto pela campanha vitoriosa. Um silêncio que gritou alto para todos os gabirabas presentes.
Desde então, o novo prefeito tem dado sinais claros de desprezo, rompimento e até sabotagem ao legado do sobrinho. Comportamentos que incluem articulações políticas para esvaziar a influência de Rodrigo, tentativas de isolar aliados históricos do grupo, e até movimentos internos para tentar consolidar um novo grupo político pessoal, nos moldes do que Michel Hagge construiu no passado.
Rodrigo Hagge, já em campanha como pré-candidato a deputado estadual em 2026, enfrenta agora um obstáculo inesperado: o boicote do próprio tio-prefeito. Eduardo Hagge teria condicionado seu apoio a Rodrigo a uma exigência: que o ex-prefeito abrisse mão de seus próprios posicionamentos políticos para apoiar os candidatos de Eduardo, como o governador petista Jerônimo Rodrigues e o deputado federal Jayme Vieira Lima (MDB), este primo dos notórios políticos envolvidos em escândalos de corrupção, Geddel e Lúcio Vieira Lima.
Rodrigo, porém, manteve sua coerência política e reafirmou seu apoio ao líder oposicionista na Bahia ACM Neto (União Brasil), o que selou o rompimento definitivo. O que deveria ser uma divergência de preferências eleitorais, tornou-se mais um capítulo de uma ruptura familiar que ameaça aniquilar o próprio legado gabiraba.
Só que Eduardo parece ter esquecido um detalhe importante: não se constrói um grupo político traindo seus próprios soldados.
Ruptura no Clã Hagge pode formar aliança entre Cida Moura e Rodrigo Hagge e emparedar gestão de Eduardo Hagge (Click Aqui)
A ambição de Eduardo por poder absoluto levou ao rompimento com vereadores da sua própria base e seu próprio sobrinho e mentor. Ele passou a valorizar adversários que o criticaram durante a campanha e desprezou parlamentares fiéis do MDB e aliados do grupo original. O gesto de interferir na eleição da presidência da Câmara, acendeu o estopim de uma crise silenciosa, mas devastadora.
O resultado? Perdeu a maioria na Câmara. E o que parecia impossível está se desenhando: uma aliança entre Rodrigo Hagge e a líder da oposição, Cida Moura, começa a ganhar força nos bastidores.
Para piorar, dentro da própria “nação gabiraba”, muitos começam a enxergar Eduardo não como o herdeiro do clã, mas como o coveiro do legado construído com suor por Michel e Rodrigo.
Eduardo sonha alto. Seus aliados mais próximos já ensaiam discursos sobre um “novo ciclo dos Hagges”, agora com ele e seu filho, Dudu Hagge, como símbolos de continuidade. Mas o clima nos bastidores e dentro do próprio grupo é outro: decepção, traição e desconfiança.
O que era para ser a manutenção de uma dinastia virou um racha público e profundo, uma guerra de egos que está colocando fim ao ciclo de domínio político da família.
Não será Cida Moura, nem Renan Pereira, nem a oposição tradicional que acabará com os Gabirabas. Será o próprio Eduardo Hagge, ao tentar construir um castelo em cima das ruínas da lealdade que ele mesmo destruiu.
Rodrigo, antes visto como o herdeiro legítimo do velho Michel, hoje paga o preço de ter fabricado sua própria queda ao indicar um tio ambicioso que não esperou nem a poeira baixar para puxar o tapete de seu criador.
O que resta agora é observar: o fim do gabirabismo não será decretado pelas urnas, mas sim pela implosão interna do próprio grupo. E, quando a criatura destrói o criador, não sobra nada além de cinzas e arrependimento.
É vida que segue...
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