De aliados a algozes: como a aliança Trump-Bolsonaro virou o jogo a favor de Lula e enterrou o discurso patriótico da direita.
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Opiniões políticas são unânime em afirmar que Lula é o maior vencedor no tarifaço do presidente dos EUA Donald Trump contra o Brasil em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro. |
A política é feita de ironias cruéis. E, no Brasil de 2025, a maior delas se materializa em dois nomes: Donald Trump e Jair Bolsonaro. O que parecia um pesadelo distópico tornou-se realidade: os dois líderes da direita radical, cada um a seu modo, estão pavimentando o caminho para o quarto mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
Até outubro de 2023, Lula enfrentava uma crescente rejeição. O desgaste do governo, as crises internas e a pressão da oposição sugeriam um cenário difícil para 2026. Mas a política é um jogo de imprevistos. A crise do IOF foi o primeiro sinal de virada: a população percebeu, de forma cristalina, que a carga tributária no Brasil recai sobre os mais pobres, enquanto as elites financeiras seguem intocáveis. O discurso de Lula “pobres Vs. ricos” de taxação dos mais ricos do país, pautado na defesa dos trabalhadores e desfavorecidos, ganhou novo fôlego.
Mas o verdadeiro presente veio de onde menos se esperava: da Casa Branca e do clã Bolsonaro.
Donald Trump, em um movimento que mistura cálculo eleitoral e lealdade tóxica, anunciou uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros. A justificativa? Uma suposta "caça às bruxas" contra Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado. Em outras palavras: Trump está usando o Brasil como moeda de troca para proteger um aliado em apuros.
A carta de Trump, endereçada a Lula, foi um presente embrulhado em nacionalismo. O presidente brasileiro, astuto, abraçou a bandeira da soberania nacional. Enquanto isso, os Bolsonaros, especialmente Eduardo, o articulador da tragédia, transformaram-se em símbolos de submissão aos interesses estrangeiros.
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A estratégia da direita de culpar Lula pelas tarifas americanas colou apenas em sua bolha. A mídia nacional e internacional deixou claro: a punição econômica é uma manobra para blindar Bolsonaro. O resultado? Grande parte do eleitorado, mesmo aqueles não alinhados ao lulismo, passou a enxergar Lula como o defensor do Brasil, enquanto os bolsonaristas assumiram o papel de traidores da pátria.
O mais patético foi a tentativa de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e possível candidato da direita em 2026, de correr ao STF para pedir um "passaporte-Zambelli" uma licença para Bolsonaro voar até os EUA e implorar a Trump que recue. O STF ignorou o pedido, e Tarcísio, que deveria defender os interesses de São Paulo (responsável por 30% das exportações afetadas), preferiu alimentar a narrativa da culpa de Lula. Resultado: foi esmagado nas redes sociais e na imprensa nacional.
Há quase oito anos, a direita brasileira monopolizava o discurso patriótico. Camisetas amarelas da seleção, bandeiras nas ruas, gritos de "mito". Agora, a tarifação de Trump e a subserviência dos Bolsonaros entregaram a Lula a bandeira do nacionalismo. Como alguém pode se dizer patriota enquanto apoia sanções contra o próprio país?
O senador Flávio Bolsonaro, em uma declaração que beira o surreal na Globonews, disse estar "angustiado" com a situação. Angústia, no caso, é sinônimo de impotência: o clã Bolsonaro sabe que está encurralado. A prisão do ex-presidente é inevitável, e a única cartada aliar-se a um Trump que sacrifica o Brasil para salvar seu aliado mostrou-se um desastre político.
Lula não precisou fazer grandes movimentos. Seus adversários fizeram por ele. Trump, com seu protecionismo agressivo, e Bolsonaro, com sua dependência humilhante do apoio americano, onde costuma bater continência para bandeira dos EUA, entregaram de bandeja o que nenhum marqueteiro conseguiria: a imagem de Lula como o verdadeiro defensor da nação.
Em 2026, quando o Brasil for às urnas, o maior cabo eleitoral de Lula não será o PT, nem os movimentos sociais. Será a dupla Trump-Bolsonaro uma aliança tão desastrosa que, sem querer, ressuscitou o lulismo e pode ter enterrado qualquer chance da direita bolsonarista retomar o poder.
A história raramente é tão irônica. E tão justa.
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