Análise: as exigências impostas por Eduardo Hagge a Rodrigo Hagge para apoiá-lo em 2026

Prefeito condiciona apoio à candidatura do sobrinho à Assembleia Legislativa ao alinhamento com seus candidatos a deputado federal e governador.

Analise: as exigências impostas por Eduardo Hagge a Rodrigo Hagge para apoiá-lo em 2026
Nova ameça de ruptura com prefeito Eduardo Hagge (MDB), exigindo que ex-prefeito e sobrinho apoie petistas.

Se a curiosa pergunta de Janja ao presidente Xi Jinping sobre o TikTok, durante uma reunião diplomática com Lula, causou constrangimento no mais alto escalão do Planalto, o vazamento de um café da manhã entre o prefeito de Itapetinga, Eduardo Hagge (MDB), e parte do baixo clero da política local pode parecer um episódio menor. Mas, nos bastidores da política municipal, o encontro teve seu próprio potencial explosivo e prá-la de constrangedor.

Realizado na casa de um dirigente partidário e servido com um farto café da manhã, o encontro com vereadores da base governista teve um momento indigesto não para os presentes, mas para o ex-prefeito e provável candidato a deputado estadual, Rodrigo Hagge (MDB), sobrinho do atual chefe do Executivo.

Durante a conversa, o prefeito Eduardo Hagge pediu reserva ao que diria, mas, como de praxe na política local, o sigilo durou pouco. Ele revelou aos vereadores ter imposto uma condição clara para apoiar a candidatura de Rodrigo: “ou ele apoia os meus candidatos a deputado federal e governo do estado, o petista Jerônimo Rodrigues, ou não contará com meu apoio político na eleição”. A declaração arrancou gargalhadas dos presentes, não exatamente pelo conteúdo, mas pela ironia da situação.

Entre os presentes estavam os vereadores Tiquinho Nogueira (PSD), Sibele Nery (PT), Daniel Lacerda (Podemos), Sol dos Animais (Solidariedade), Pastor Jean Doriel (PL), Neto Ferraz (PDT) e Anderson da Nova (União Brasil), todos nomes que, por diferentes razões, carregam restrições ao ex-prefeito Rodrigo Hagge. Curiosamente, Neto Ferraz e Anderson da Nova foram figuras próximas à gestão de Rodrigo, mas agora preferem seguir quem ocupa, no momento, a cadeira de prefeito. Vale lembrar, que os vereadores que vieram da oposição, sem exceção, já têm os seus candidatos a federais e govenador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT).

No dia seguinte, o prefeito repetiu a fórmula: outro café da manhã, agora com a ala mais leal a Rodrigo Hagge, composta pelos vereadores emedebistas Tele, Peto, Tarugão, Valquírio Lima, além do “opositor?” Diga Diga (PSD). Mas nesse encontro, Eduardo silenciou sobre suas exigências ao sobrinho, sinal claro de que há pesos e medidas diferentes dentro da mesma base.

Prefeitos juntos de novo: Eduardo Hagge e Rodrigo Hagge reatam laços familiares após brigas
Prefeitos juntos de novo: Eduardo Hagge e Rodrigo Hagge reatam laços familiares após brigas (VEJA AQUI)

O que deveria ser um gesto de afirmação política do prefeito, no entanto, escancarou fragilidades. Eduardo Hagge percebeu que a sustentação que ainda possui na Câmara não está comprometida com seu projeto político nem com seus candidatos. A maior parte dos vereadores governistas já fechou com o deputado federal Antônio Brito (PSD), deixando o prefeito com o apoio isolado do presidente da Câmara, Luciano Almeida (MDB), a seu candidato federal, Jaime Vieira Lima (MDB).

É bom lembrar que Rodrigo Hagge é aliado e mantém compromissos políticos com ACM Neto (União Brasil), principal adversário do PT na Bahia. Atualmente, o ex-prefeito de Itapetinga ocupa o cargo de assessor especial na Limpurb, a autarquia de limpeza pública de Salvador, posição obtida por indicação direta de Neto. Isso, por si só, praticamente inviabiliza qualquer possibilidade de Rodrigo subir no palanque do governador Jerônimo Rodrigues (PT), como pretende o prefeito Eduardo Hagge.

Ao tentar impor esse alinhamento forçado a seus próprios candidatos, incluindo o primo dos impopulares Geddel e Lúcio Vieira Lima do MDB, Eduardo corre o risco de provocar uma nova ruptura precoce com o sobrinho e ex-prefeito. Sem base sólida, sem grupo político coeso e enfrentando dificuldades para consolidar sua liderança entre os próprios aliados, o prefeito arrisca dar um tiro no pé.

Na prática, sua pressão pode empurrar Rodrigo Hagge ainda mais para os braços de Antônio Brito (PSD), deputado federal com forte presença na região e que já conta com o apoio da maioria dos vereadores da base em Itapetinga. Caso isso se concretize, o prefeito não apenas perderá o controle sobre a candidatura do sobrinho, como poderá assistir a um vexame eleitoral nas urnas, especialmente se seu candidato a federal continuar atrelado ao usadíssimo sobrenome Vieira Lima, que carrega desgaste histórico e rejeição por estarem envolvidos com corrupção.

É, no mínimo, irônico que o prefeito imponha condições ao sobrinho para ter seu apoio, enquanto ele mesmo não consegue consolidar o respaldo da própria base aliada. No núcleo político da Prefeitura e do Legislativo, o risco de retaliação por parte do Executivo à bancada só aceleraria a perda de controle de Eduardo Hagge sobre a Câmara.

O desjejum, que deveria simbolizar força e unidade, serviu, na prática, como um retrato da desarticulação política que ronda administração Eduardo Hagge, e da solidão que ameaça engolir o atual prefeito, mesmo cercado de aliados.