Análise: os arranjos de Eduardo Hagge para escapar da própria armadilha que criou

Prefeito de Itapetinga queima últimos cartuchos ao abandonar vereadores titulares e apostar em suplentes para salvar projeto de eleição de deputado.

Análise: os arranjos de Eduardo Hagge para escapar da própria armadilha que criou
Ao defender projeto de eleição de deputado federal em Itapetinga, o prefeito Eduardo Hagge (MDB), arrisca implodir base aliada na Câmara de Vereadores.  

Por mais que tente aparentar normalidade, o prefeito de Itapetinga, Eduardo Hagge (MDB), vive um momento político que, em qualquer manual de sobrevivência partidária, seria descrito como “alerta máximo”. Com uma base aliada teoricamente confortável, 13 vereadores no total, Eduardo não consegue sequer garantir apoio sólido ao seu pré-candidato a deputado federal, Jayme Vieira Lima (MDB), nas eleições de 2026.

O desgaste é tão evidente que cinco vereadores do próprio MDB já comunicaram que não marcharão com o projeto do prefeito. Um baque para quem ainda alimenta pretensões de manter protagonismo político. O apoio declarado ao nome de Jayme, hoje, se restringe a um único vereador: o presidente da Câmara, Luciano Almeida. E ironicamente, foi justamente a interferência direta de Eduardo, para eleger Luciano ao comando do Legislativo que detonou a atual crise interna. O movimento que deveria consolidar poder, na prática, gerou um efeito oposto: rachou a base.

O que se vê desde então é um prefeito acuado, errático e mal assessorado. Nos bastidores, o clima é de desespero. Em tentativa de impor alinhamento, Eduardo Hagge recorre à velha cartilha: pressão, ameaças, chantagem política. E, para tentar dar peso às investidas, saca uma carta marcada: Geddel Vieira Lima. Sim, o mesmo Geddel condenado por corrupção e dono de um dos maiores escândalos em dinheiro vivo da história política recente, ainda com lugar cativo na cúpula do MDB baiano. A escolha de Geddel como “bombeiro” diz muito sobre o estado do incêndio.

Eduardo Hagge busca Geddel para ameaçar vereadores do MDB de Itapetinga (Click Aqui) 

Mas é previsto que as ameaças surtirão pouco efeito. A base, cansada de promessas não cumpridas e articulações mal conduzidas, reage. E com razão. O prefeito passou a oferecer cargos a suplentes de vereador, tentando agregar apoio no varejo, sem antes honrar os compromissos assumidos com os titulares da base aliada. Resultado: um mal-estar generalizado, com risco real de ruptura política. Afinal, como sustentar acordos futuros se os passados sequer foram cumpridos?

No campo oposto, o grupo liderado por Antônio Brito (PSD) que deve receber o apoio da líder opositora Cida Moura (PSD), principal adversária de Eduardo Hagge na última eleição, cresce com discrição, mas eficácia. Aproveita cada falha do governo para preencher espaços, consolidar alianças e ampliar influência.

Eduardo, por sua vez, parece preso a um modelo de gestão ultrapassado: centralizador, pouco diálogo e baseado na ideia de que cargos ainda compram lealdade. Em 2025, isso soa obsoleto. A política municipal hoje exige mais do que imposição: exige escuta, articulação real e cumprimento de acordos.

Crise à vista: sem vereadores, Eduardo Hagge aposta em suplentes e barganha cargos por votos a deputado (Click Aqui)

Com pouco mais de um ano para o pleito, o que se vê é um prefeito politicamente isolado, internamente questionado e externamente cercado. A perda de controle sobre sua base e o uso de figuras como Geddel para tentar restabelecer ordem revelam não apenas fragilidade, mas um descompasso profundo com o cenário político contemporâneo.

O poder, como já dizia saudosos Tancredo Neves, não é algo que se impõe, é algo que se exerce. E Eduardo, ao que tudo indica, começa a perder as duas coisas: o exercício e a ilusão do controle.

É desarticulação, é Hagge, é vida que segue...