No Rio de Janeiro, número de mortes por Covid-19 de idosos vacinados com as duas doses dobra em um mês e meio.
Fila em direção a um posto de vacinação para receber uma dose da vacina contra o coronavírus em Belford Roxo, Baixada Fluminense. |
Desde meados de junho, o número de mortes entre idosos com as duas doses da vacina não para de subir no Rio de Janeiro, segundo apontam dados da Secretaria estadual de Saúde (SES). Na semana epidemiológica 24, de 13 a 19 de junho, foram contabilizadas 42 mortes nesse grupo. Um mês e meio depois, na semana epidemiológica 30, de 25 a 31 de julho, foram 83 mortes, uma alta de 97% em relação ao número anterior.
O aumento não se reflete com a mesma intensidade no número de óbitos entre idosos em geral. Mas esse indicador também aumentou, embora esteja distante dos picos de mortes registrados este ano. Depois de um histórico de queda que se mantinha desde a primeira semana de maio, quando foram registradas 1.326 mortes, ele voltou a subir na última semana de julho, que teve 281 ocorrências.
O quadro confirma previsões de cientistas da Fiocruz, que projetaram, no início do mês, um aumento drástico de hospitalizações e mortes por Covid-19 no Rio de Janeiro, sobretudo entre idosos. O pesquisador Leonardo Bastos, um dos realizadores das análises, atribui a nova situação epidemiológica aos elevados níveis de transmissão da doença no estado, que se mantiveram estáveis nos últimos meses.
O cenário se torna particularmente perigoso diante da chegada de uma cepa mais contagiosa, como a Delta. Ainda na avaliação de Bastos, os números reforçam a necessidade da terceira dose da vacina em idosos, mas a imunização não é a única chave para a prevenção de uma tragédia.
Casal do Rio relata que foram proibidos de vacinar enquanto vestisse camisa contra Bolsonaro. (VEJA AQUI). |
“Os dados podem se dever a uma conjunção de fatores, entre eles a imunossenescência (perda de imunidade decorrente do envelhecimento) dos mais idosos e a própria variante Delta. O vírus continua encontrando os mais velhos, em quem a vacina, por outro lado, pode não ser mais tão efetiva quanto antes” diz o especialista, que continua:
“O Rio é amplamente conectado ao resto do país, então o alerta é para todo o Brasil. Se nada for feito, o que se vê agora no Rio vai acontecer em outros lugares, penalizando sobretudo os mais idosos, que são mais vulneráveis e sentem os efeitos da pandemia antes das demais faixas etárias.”
Enquanto isso, pela primeira vez desde o fim de abril, pessoas com 60 anos ou mais voltaram a representar mais da metade dos internados por Covid-19 na capital. Naquele mês, por efeito da vacinação, o número de hospitalizações nessa faixa etária iniciou uma tendência de queda, tendo chegado, no fim de junho, à menor proporção do total de internados em toda a pandemia (31%).
Isso acabou em meados de julho, quando os idosos passaram a representar metade de todas as internações no município. O movimento se consolidou nas semanas seguintes, de modo que, no início de agosto, pessoas com 60 anos ou mais chegaram a corresponder a 63% das hospitalizações, a maior proporção desde o fim de janeiro.
O dado, retirado do sistema de Informações em Saúde da Secretaria municipal de Saúde (SMS), pode ter sido influenciado pelo aumento da cobertura vacinal das faixas etárias mais jovens. Fato é que o grupo das pessoas com 60 anos ou mais segue agora uma tendência contrária à da população em geral: enquanto o número de internações no município em todas as faixas etárias caiu 16% entre as semanas epidemiológicas 24 (meados de junho) e 31 (início de agosto), a quantidade de hospitalizações de idosos aumentou 42%. No município do Rio de Janeiro, todas as pessoas com 60 anos ou mais já tiveram oportunidade de tomar as duas doses da vacina a esta altura. (conteúdo O Globo)