Um estúpido bolsonarista que negou comida a uma diarista por ela ser eleitora de Lula

Um estúpido bolsonarista que negou comida a uma diarista por ela ser eleitora de Lula

A diarista Ilza Ramos Rodrigues conta como se sentiu ao ser humilhada por bolsonarista do agronegócio e reafirma seu voto em Lula. 

Um estupido bolsonarista que negou comida a uma diarista por ela ser eleitora de Lula
Diarista reafirma voto em Lula após ter sido humilhada por empresário bolsonarista em doação de comida.

Já deu para perceber que o bolsonarismo é capaz de tudo, até mesmo transformar um empresário que costumava a praticar a boa fé em prol do próximo em uma desprezível pessoa de natureza desumana ao retirar uma marmita das mãos de uma senhora mãe de família, desempregada, por ela ser uma eleitora de Lula, e ainda postar um vídeo nas redes sociais aclamando o presidente Jair Bolsonaro e humilhando a diarista desempregada e com filhos passando necessidade em casa.

O relato por si já é repugnante, imagine para a diarista Ilza Ramos Rodrigues, 52, diz que entrou em desespero quando viu seu rosto em um vídeo que circulava nas redes sociais. Nele, um apoiador de Jair Bolsonaro (PL) tentou humilhá-la se negando a fornecer marmitas após descobrir a sua intenção de voto.

Ocorrido na semana passada na cidade de Itapeva, no interior de São Paulo, o episódio viralizou no sábado (10) depois de ser divulgado pelo portal Jornalistas Livres, e ganhou sites e  principais jornais do país.

O empresário é do agronegócio, Cássio Joel Cenali, que responde por uma série de processos no Tribunal de Justiça de São Paulo. Ele tentou retratar nas redes sociais, mas repercussão negativa foi muito além do que o próprio bolsonarista imaginaria.  

"Ela é Lula [PT]. A partir de hoje não tem mais marmita", disse o empresário Cassio Cenali, gravando a cena. "A senhora peça para o Lula agora, beleza?", continuou.

"Fiquei sem ação. O jeito que ele falou mexeu com a minha mente, não é brincadeira. O que ele fez foi me humilhar. Só porque ele tem dinheiro, tem o carrinho dele, ele quis me humilhar com essa ação. Eu não posso nem ver [o vídeo]", diz Ilza à coluna Mônica Bergamo/ Folha de S.Paulo, encobrindo seus olhos com as mãos. "Mexeu muito no meu psicológico."

Ilza afirma que começou a receber as marmitas durante a pandemia de Covid-19. Elas eram enviadas por um senhor para o qual prestava serviços de faxina, morto recentemente. "Não tinha nada de eleição, era o coração dele", conta. Desde então, as quentinhas passaram a ser levadas até a sua casa pelo empresário Cassio Cenali, a quem ela diz mal conhecer.

"Ele trazia [as refeições] todas as quartas. Ficava para mim e dava para duas famílias. Esse homem que eu não esperava, eu nem sabia o nome dele, entregava e ia embora. Até que na semana passada ele mandou eu segurar a caixa com a mão: ‘Dona Ilza, vou gravar’", diz.

"Pensei que ele ia gravar para uma ONG, até falei: ‘Nossa, moço, tô tão mal arrumada’. ‘Mas não tem problema’ [respondeu o empresário]. Na hora ali, ele começou: ‘É Bolsonaro’. Fiquei com a caixa na mão. E ele gravando, na minha cara", continua.

Ela conta que temeu ser exposta desde o momento em que foi abordada pelo apoiador do presidente da República. "Fiquei desesperada, fiquei nervosa. Liguei para a minha irmã: ‘Você não sabe o que aconteceu. Ele vai pôr a minha imagem no Face, vão tirar sarro de mim’."

Num primeiro momento, a diarista acabou sendo tranquilizada por familiares. Uma delas era a balconista Rosana Ramos Rodrigues, sua irmã. "Achei que ele não ia fazer isso porque ia dar ruim. As pessoas não iam gostar, ele estava negando alimento para o mais humilde", afirma.

Após o vídeo viralizar, a identidade de Ilza Ramos Rodrigues veio à tona por meio da página Iconografia da História, que acumula 163 mil seguidores no Instagram. Seu criador, o cientista social Joel Paviotti, publicou uma foto dela e de parte de um documento comprovando a sua identidade. Na legenda, escreveu: "Encontramos!"

"Quando tive acesso ao vídeo do homem constrangendo aquela pobre senhora, coloquei o canal à disposição de algum familiar, e a Ayume apareceu. Pedimos uma verificação, ela mandou foto da tia e da documentação dela, permitiu a divulgação e colocamos dona Ilza no ar. A publicação gerou uma grande corrente do bem", diz o cientista social à colunista da Folha.

Paviotti foi procurado por Ayume Ramos, sobrinha da diarista, que seguia a página e viu o vídeo de sua tia. Após se identificar nos comentários e passar o pix de Ilza, atendendo a pedidos, ela afirma ter se tornado alvo de ataques e ameaças. "Teve gente falando que era golpe, que eu ia para a cadeia. Entrei em desespero."

Neste domingo (11), o empresário Cassio Cenali foi às redes sociais para se retratar. "Estou aqui para pedir desculpa pela infelicidade de ter feito esse vídeo. Estou muito arrependido", afirmou.

"Faz mais de dois anos que eu faço 60 marmitas toda quarta-feira e entrego para morador de rua, inclusive para essa senhora. E não é isso que vai fazer eu parar com esse trabalho meu. É um trabalho que eu faço com recurso meu, não tenho apoio político nisso aí, não tenho nada. Eu só quero a caridade", continuou.

Ilza, no entanto, afirma que não recebeu um pedido de desculpas do empresário pessoalmente.

Depois do depressível episódio do empresário bolsonarista, uma corrente solidária em prol de Ilza Ramos Rodrigues foi criada, hoje, ela está recebendo alimentos e até dinheiro para manter sua residência, além do apoio total da comunidade de sua cidade. O ex-presidente Lula lamentou o ocorrido e encaminhou uma mensagem de conforto e apoio a diarista paulistana.

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