Na lógica da direita brasileira, a justiça só é justa quando pune adversários da esquerda.
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Direita brasileira engue a bandeira na honestidade enquanto seus líderes estão com um pé na prisão. |
Se existe algo em que a direita brasileira tem se especializado nos últimos anos, além de espalhar fake news com a agilidade de um GIF de gatinhos, é na construção de uma doutrina peculiar: a de que o “bandido” da direita é, na verdade, um herói da liberdade. Já os da esquerda... bem, esses são sempre ladrões da pior espécie, mesmo que estejam apenas respirando.
Tomemos o caso da deputada Carla Zambelli como exemplo didático. Ré por invasão de sistema do CNJ com o auxílio de um hacker para emitir um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, e ainda respondendo por perseguir um jornalista negro com arma em punho em plena luz do dia nas ruas de São Paulo, Zambelli conseguiu se tornar, no imaginário de alguns bolsonaristas, uma heroína injustiçada. Zambelli fugiu do Brasil, após ser condenada a 10 anos de prisão, e mais cinco anos, pelos crimes de estelionato e armada.
Zambelli dá aula a Bolsonaro: como derrotá-lo e fugir do Brasil para não ser presa (Click Aqui)
A redenção da nobre deputada, no entanto, não foi completa. Parte da turma de Jair Bolsonaro ainda guarda certa mágoa, o episódio da arma em punho às vésperas da eleição de 2022 teria ajudado a enterrar de vez as chances do tal ‘Mito’ retornar ao Planalto. Ingratidão, não é mesmo? Afinal, qual bolsonarista raiz nunca sonhou em protagonizar um bangue-bangue urbano?
No Brasil paralelo do bolsonarismo, a lógica é clara: se a Justiça condena um aliado, é perseguição. Se condena um petista, é prova de que “finalmente a lei funcionou”. Não importa a natureza do crime, pode ser rachadinha, estelionato, ameaça, ou até tentativa de golpe. O importante é que, sendo “do nosso de Direita”, o réu vira vítima, mártir, herói injustiçado. Fabrício Queiroz, por exemplo, já virou quase um Che Guevara do cercadinho, com direito a entrada triunfal em evento em Copacabana no período do governo de Jair Bolsonaro.
Essa lógica kafkiana não é exclusividade nacional. Marine Le Pen, na França, foi condenada por desvio de verba pública e se tornou inelegível por cinco anos. Resultado? A extrema-direita europeia gritou "perseguição!". O mundo gira, mas o script da direita radical é o mesmo: negar o crime, vitimizar o culpado, atacar as instituições.
Por aqui, o roteiro caminha para seu ápice com Bolsonaro, agora cada vez mais próximo de trocar o terno por um uniforme laranja, sendo julgado por tentativa de golpe de Estado. As provas são robustas, as gravações explícitas, os envolvidos bem conhecidos, mas, na doutrina bolsonarista, tudo não passa de mais uma conspiração globalista para calar “o mito”. Aliás, ele mesmo já resumiu a estratégia em uma frase lapidar: “Os idiotas dá para convencê-los, trazer para o nosso lado.”
E assim segue a máxima do bolsonarismo: bandido bom é o nosso. O resto, cadeia neles.
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