Carla Zambelli ensina como sair de cena com estilo, enquanto Bolsonaro protagoniza o último ato do fracasso golpista com previsão de prisão e sendo vigiado após fuga da deputada.
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Foragida, deputada federal Carla Zambelli afirma que estar na Florida, nos EUA, e deve partir para Itália nos próximos dias. |
Enquanto Jair Bolsonaro (PL) amarga o papel principal no enredo de uma tentativa fracassada de golpe, com potencial para lhe render até 40 anos de prisão, sua ex-aliada, a ex-deputada Carla Zambelli, já ensina, na prática, como se sai de cena com estilo: do outro lado do Atlântico, com suposta cidadania europeia, contas abastecidas por seguidores fiéis e um sorriso digno de quem diz "se virem aí". Um roteiro que faria inveja a qualquer série política da Netflix.
A Polícia Federal traçou com detalhes a participação direta do ex-presidente em um plano para desacreditar as eleições, preparar decretos de exceção e acionar as Forças Armadas para manter-se no poder, com direito a generais em farda e pijama, ministros de ocasião e militares pendurados na Constituição como se fosse varal. O que antes era paranoia virou relatório técnico. O que era live virou prova. E o que era bravata pode virar sentença.
Nesse teatro do absurdo, Zambelli foi mais rápida que os investigadores: condenada a 10 anos de prisão por forjar documentos judiciais com a ajuda de um hacker e ameaçar o ministro Alexandre de Moraes com um mandado falso, a ex-deputada fugiu do país sem nem olhar pra trás. A debandada acende o alerta: se ela conseguiu, por que não outros? Por que não Bolsonaro?
Por unanimidade, STF condena deputada Carla Zambelli e hacker Walter Delgatti (Click Aqui)
Aliás, Zambelli não só escapou, como cravou a faca e girou. Fez dupla sacanagem com Bolsonaro: contribuiu para sua derrota em 2022 e agora serve de exemplo vivo de que fugir funciona. Na véspera do segundo turno, protagonizou uma das cenas mais grotescas da campanha, perseguiu pelas ruas de São Paulo, armada, um jornalista negro. A cena, de puro terror bolsonarista, virou manchete mundial e a rendeu mais de 5 anos de prisão por porte ilegal de arma. Até hoje, bolsonaristas, e o próprio Bolsonaro, a culpam por afundar de vez a candidatura do capitão.
Hoje, ela respira os ares americanos, e em breve, europeus, longe dos mandados, dos ministros do STF e do bafafá institucional. Diz ter cidadania italiana, conta bancária regada a Pix de quase R$ 300 mil dos últimos fiéis do bolsonarismo, e aparentemente nenhuma pressa em voltar.
Enquanto isso, Bolsonaro se vê encurralado por investigações que detalham reuniões golpistas, articulações com generais e até conversas sobre mortes de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. Tudo em nome de uma democracia, digamos, alternativa, aquela onde a urna perde, mas o candidato ganha. Para ele, nada disso foi golpe. No máximo, um "mal-entendido".
Só que as provas não têm senso de humor. E os generais, pressionados, já começam a contar tudo com riqueza de detalhes, inclusive a tal minuta do golpe. Apostar que Bolsonaro escapará ileso é como apostar que a Terra é plana, algo que, aliás, muitos de seus apoiadores também juram de pés juntos.
A essa altura, talvez a Polícia Federal devesse começar a fiscalizar passagens internacionais com o mesmo afinco com que investiga os celulares e notebooks dos investigados. Porque Bolsonaro ainda está no Brasil. Mas por quanto tempo?
Para completar a aula prática de fuga, Zambelli anunciou licença do mandato para permanecer no exterior e evitar a prisão. Está na Flórida e deve seguir para a Itália, sem medo da Interpol, acredita que não será incluída na difusão vermelha, apesar do pedido de prisão preventiva feito pela PGR e prestes a ser aceito por Alexandre de Moraes.
Ou seja, enquanto o cerco aperta, ela segue para escapar da prisão. O golpe pode ter falhado, mas a fuga, essa sim, foi bem-sucedida.
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