Protesto foi em Sinop, ao norte de Mato Grosso; ameaçados, organizadores e a empresa contratada fizeram um acordo após pressão de bolsonaristas.
'Cemitérios cheios, geladeiras vazias. Governo ruim não salva vidas nem a economia', outdoor em Sino (MT). Foto: O Globo. |
Dez outdoors criticando a gestão do presidente Jair Bolsonaro colocados em Sinop, município do norte de Mato Grosso, foram retirados após a pressão de bolsonaristas da região. Em um dos cartazes dizia " Cemitério cheio, geladeiras vazias. Governo ruim não salva vidas nem a economia". A publicação nos outdoors fez parte de ato de protesto contra o governo organizado pela Liga das Mulheres pela Adufmat (sindicado dos professores da UFMT), Adunemat (sindicato dos professores da Unemat), o PDT de Sinop e a vereadora professora Graciele (PT) .
As entidades fizeram uma vaquinha e pagaram cerca de R$ 7 mil pela colocação dos painéis. Após a retirada dos cartazes, o dinheiro foi devolvido pela empresa que havia sido contratada.
Um dos pólos de agronegócio no estado, na eleição de 2018 Bolsonaro teve 77% dos votos válidos em Sinop. Depois de eleito, foi a primeira cidade visitada pelo presidente em MT em 2020. Segundo os organizadores, desde a colocação das mensagens, na quarta-feira, começaram as ameaças.
"A ameaça começou em redes sociais, com divulgação de mensagens com endereço das pessoas e até os telefones. O dono da empresa que fez a divulgação também foi ameaçado economicamente por empresários, que são bolsonaristas, que suspenderiam contratos se não retirassem os painéis. Também houve ameaça dos donos dos terrenos onde estão as placas" conta um dos organizadores, que também foi ameaçado e preferiu não se identificar.
Em um dos painéis, Bolsonaro aparecia com uma taça de espumante na mão com oferta de gás de cozinha 120,00, arroz 19,00 e gasolina 5,7 e o questionamento: Bolsonaro governa para quem?
Pedido de desculpas. Uma mensagem contra a empresa contratada circula as redes sociais criticando o proprietário e divulgando os dados do empresário. "Não podemos admitir quando um empresário que se diz 'Bolsonarista' pactua com atos como esses", diz o texto. "O mínimo que o grupo Grapfel deve fazer neste momento é retirar todas as placas colocadas e publicar uma nota na imprensa com pedido de desculpas a todos os sinopenses".
Rodrigo Reinehr, filho do dono da empresa, confirmou as ameaças. Ele disse que como prestadores de serviço cumpriram o papel de atender "sem selecionar o cliente".
"Estávamos sobe ameaça, até nossos colaboradores, nossos funcionários. Teve até vandalismo, derrubaram uma placa nossa. Então nós fizemos um acordo com o cliente, explicamos a situação. Fizemos um acordo para cancelar o contrato porque estávamos sob risco."
Circula na internet um vídeo em que um homem aparece usando uma motosserra para derrubar uma das placas. (conteúdo O Globo)