Petistas são negacionistas em relação a chacinas na Bahia
Chacinas na Bahia multiplicam sob os governos petistas. |
O Partido dos Trabalhadores governa a Bahia desde 2007. A Bahia deu a Lula uma vantagem de mais de 3 milhões de votos na eleição de 2022 e sem os votos baianos ele teria perdido para Jair Bolsonaro. Foi um resultado acachapante: Lula teve 72% dos votos e prevaleceu em 415 dos 417 municípios do Estado.
Os ex-governadores Jaques Wagner e Rui Costa reelegeram-se. Wagner está no Senado e Costa na chefia do Gabinete Civil. Ambos vieram do sindicalismo dos petroleiros e ambos ajudaram a fundar o Partido dos Trabalhadores. Jerônimo Rodrigues, o atual governador, filiou-se ao PT nos anos 90. Por todos os motivos, o PT baiano é um exemplo de administração reconhecida pelos eleitores.
Onde se pode encaixar a estatística de que nos últimos doze meses ocorreram 29 chacinas na Bahia? Numa só semana de agosto morreram 25 pessoas. (No Rio as chacinas foram 37, mas o estado é triste figurinha fácil nessa prática)
Numa outra ponta do problema, durante os governos de Rui Costa, a polícia baiana quadruplicou sua letalidade, de 354 mortes em 2015 para 1.464 em 2022. Confrontado com esses números, o doutor respondeu: "Não reconheci e não reconheço de ONGs que fazem publicações sobre questão de segurança."
Rui Costa governava a Bahia em 2015 quando uma ação da PM resultou na morte de 12 pessoas na Cabula, na periferia de Salvador. Os envolvidos no episódio ainda não foram a julgamento.
Dias depois da declaração negacionista do chefe da Casa Civil, foi executada na região metropolitana de Salvador a líder quilombola Bernadete Pacífico. Cinco anos antes, havia sido assassinado seu filho. Sem qualquer prova, o governador Jerônimo Rodrigues relacionou o crime a uma eventual guerra entre facções criminosas.
A líder quilombola e ialorixá Mãe Bernadete foi executada a tiros no quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, na Região metropolitana de Salvador. |
Mais: diante da exposição do aumento da letalidade policial. Rodrigues foi professoral: "Eu quero pedir para aqueles que ficam mandando recados errados: respeitem a nossa Polícia Militar, o que vocês estão fazendo com a Polícia Militar é irresponsabilidade."
De fato, é irresponsabilidade atribuir à PM execuções e chacinas, sem provas. Também não é atitude responsável negar os números da letalidade policial. A Bahia, como diversos estados, vive a praga das quadrilhas de traficantes e das guerras de facções. Esse é um problema de segurança pública, mal resolvido do Oiapoque ao Chuí.
Na madrugada de segunda-feira, nove pessoas, inclusive três crianças, foram chacinadas em Mata de São João, a 62 quilômetros de Salvador. Os depoimentos de moradores atestam que o crime resultou de uma disputa do território por traficantes de drogas.
A ação do crime organizado é um problema de segurança pública, mas a retórica negacionista é um vício do mandonismo. A segurança da Bahia vai mal porque tem dois problemas, um é o crime organizado, o outro é uma polícia letal.
Os governadores petistas poderiam seguir uma regra simples. Sempre que estiverem prestes a dar declarações idênticas às dos políticos que condenam, talvez seja melhor que fiquem calados. Afinal, se Jerônimo Rodrigues e Rui Costa ecoam frases que poderiam ter saído da prosopopeia bolsonariana, qual é a diferença entre eles? Em 2018, ao elogiar policiais cearenses metidos numa operação que resultou na morte de 14 pessoas, o então governador petista, Camilo Santana, teve a humildade de desculpar-se com as famílias.
Por Elio Gaspari/Folha de S.Paulo: Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada"