O que há por trás do novo decreto do prefeito Eduardo Hagge que vereadores querem derrubar?

Persistência do prefeito Eduardo Hagge em dar poderes extras à Procuradoria, sem aval da Câmara, levanta suspeitas sobre contratação de escritórios de advocacia privados.

O que há por trás do novo decreto do prefeito Eduardo Hagge que vereadores querem derrubar?
Prefeito de Itapetinga Eduardo Hagge (MDB) volta assinar decreto municipal ilegal. Câmara de Vereadores prepara derrubada.

Um verdadeiro cabo de guerra jurídico e político toma conta da Prefeitura de Itapetinga. De um lado, o prefeito Eduardo Hagge (MDB), insistindo em um decreto que concede poderes de secretaria à Procuradoria-Geral do Município (PGM). Do outro, vereadores de oposição e até da base aliada, que se movimentam para derrubar a medida, acusando o chefe do Executivo de usurpar as atribuições do Legislativo e criar uma brecha para contratações milionárias.

A polêmica começou quando o IDenuncias revelou a publicação do Decreto Municipal n.º 357/2025. O documento, assinado por Hagge, não se limitava a organizar o trabalho dos advogados da prefeitura. Ele elevou o status do órgão, concedendo-lhe autonomia administrativa e financeira – um privilégio não previsto em lei e, até então, reservado apenas às secretarias.

Eduardo Hagge usurpa poderes da Câmara ao dar status de secretaria à Procuradoria sem aval dos vereadores.

A reação na Câmara de Vereadores foi imediata e furiosa. Diante da pressão, a prefeitura recuou. Revogou o decreto para acalmar os ânimos. Mas a trégua durou poucas horas. Num movimento classificado por vereadores como "expertise ou malandragem", Eduardo Hagge refez o decreto, suavizou alguns excessos, mas manteve a essência: a regulamentação de poderes que a PGM não tem sob a Lei Municipal nº 1.057/2009, que rege a estrutura administrativa do município.

A persistência do prefeito de Itapetinga em manter o decreto, mesmo sob fogo cerrado, acendeu um alerta. O que estaria por trás de tanta teimosia?

A resposta, para os vereadores, está escondida em um "parágrafo único" do decreto, uma espécie de "jabuti" emenda sorrateira, famosa no Congresso Nacional para burlar leis. Esse trecho específico autoriza a Procuradoria a fechar contratos com empresas privadas de advocacia e consultorias jurídicas.

Eis a grande contradição e a raiz da denúncia: a própria lei municipal (1.057/2009) define a Procuradoria-Geral como o único órgão responsável por representar o município na justiça. Se a PGM já é a defensora oficial da prefeitura, por que seria necessário contratar caros escritórios de advocacia externos?

Os parlamentares que assinam um decreto legislativo para suspender o decreto do prefeito não têm dúvidas: a medida foi feita sob medida para beneficiar o experiente e notório advogado sr. Frederico Silveira e Silva, atual procurador-geral do município. O decreto, na prática, daria a ele e ao órgão um poder incomum e uma flexibilidade orçamentária perigosa para terceirizar serviços que, em tese, já são de sua competência.

Um parecer jurídico encomendado pelos vereadores é taxativo: o Decreto 360/2025 é materialmente ilegal e inconstitucional. Confronta diretamente a Lei 1.057/2009 em quatro pontos cruciais:

Primeiro, cria autonomia não prevista em lei: A lei define a PGM como um órgão de assessoramento, sem autonomia plena. O decreto tenta transformá-la em uma "super secretaria".

Segundo, excede o poder do Executivo: Cabe ao prefeito regulamentar leis, não criar novas competências. Isso é função da Câmara de Vereadores.

Terceiro, usurpa o poder Legislativo: Ao reestruturar a administração, o prefeito invade uma atribuição exclusiva dos vereadores. 

Quarto, abre brecha dos contratos: A autorização para contratar serviços advocatícios externos fere a exclusividade da PGM, criando uma porta aberta para desvios e superfaturamento.

Enquanto a Câmara se prepara para votar a derrubada do novo decreto, a pergunta que fica no ar é: a quem realmente serve essa mudança? À eficiência da máquina pública ou a interesses que precisam de mais agilidade e menos transparência para contratar aliados no mundo jurídico? A persistência do prefeito Hagge só faz aumentar o volume dessas suspeitas.