Em meio a divisões vorazes, novo presidente tenta costurar paz em Legislativo onde prefeito perdeu maioria; herança do antecessor é de inação e conflito.
![]() |
| Luciano Almeida (MDB), deixa a presidência e licença do mandato de vereador para assumiu uma secretaria na Prefeitura de Itapetinga. |
Em uma sessão surpreendente na última quarta-feira (22/10), a Câmara Municipal de Itapetinga virou uma página conturbada de sua história. O então presidente Luciano Almeida (MDB) anunciou seu licenciamento para assumir um cargo de secretário na gestão do prefeito Eduardo Hagge (MDB). O comando da Casa, agora, passa para as mãos do vice-presidente Neto Ferraz (PDT), que herda não apenas o cargo, mas a espinhosa missão de pacificar um Parlamento em pé de guerra.
O legado deixado por Luciano Almeida, após apenas dez meses à frente do Legislativo, é amplamente visto como desastroso pela maioria dos vereadores. Longe de deixar saudades, o ex-presidente não concretizou obras ou reformas significativas, mas consolidou um ambiente de brigas e disputas internas que transformou a ampla maioria parlamentar do prefeito em uma frágil minoria em pouco tempo.
A raiz do conflito remonta à eleição para a Mesa Diretora, em 1º de janeiro. O prefeito Eduardo Hagge foi aconselhado a intervir na disputa pela presidência. Diante da escolha entre uma chapa formada pela base fiel ou uma chapa híbrida com aliados e opositores, Hagge optou por apostar em Luciano Almeida, que trazia o apoio de vereadores da oposição.
A jogada arriscada de Luciano Almeida: licenciar da presidência para proteger prefeito de CPI.
A decisão, considerada por muitos como um tiro no pé, foi o estopim de uma crise que se arrasta até hoje. Ao aliar-se à oposição para garantir a presidência, Almeida alienou a base aliada do prefeito, fragmentando o plenário.
Luciano Almeida, temendo perder o apoio dos vereadores de oposição que o levaram ao poder, não moveu uma palha para apaziguar os ânimos. Sua gestão foi marcada pela inação. Em um ato simbólico de sua passagem discreta, ele preferiu devolver R$ 500 mil aos cofres da Prefeitura a promover reformas nas dependências da Câmara ou dar continuidade a projetos em andamento, como a instalação de placas solares para energia renovável.
Neto Ferraz herdará uma Câmara sem dinheiro e uma crise deixada por Luciano Almeida e pelo prefeito.
Agora, Neto Ferraz assume uma Casa dividida e com o clima azedo. Sua tarefa imediata é descascar o abacaxi herdado: redistribuir cargos de comissionados, rever contratos deixados por Almeida e, acima de tudo, fazer costuras políticas para reequilibrar as forças.
A missão, no entanto, beira o impossível. A opinião predominante entre os parlamentares é que tentar unir os dois grupos é uma batalha perdida, dada a profundidade das desavenças. O prefeito Hagge, por sua vez, mantém uma postura defensiva e não cede um milímetro em relação aos vereadores que se afastaram.
O desafio de Neto Ferraz é hercúleo. Ele precisa construir uma assessoria competente do zero e navegar com extrema cautela entre os dois blocos antagônicos. Seu sucesso não será medido por grandes feitos legislativos, mas pela capacidade de restaurar um mínimo de governabilidade.
O ‘Presentão’ de R$ 500 mil: a estranha renúncia de Luciano Almeida e a limpa nos cofres da Câmara de Itapetinga.
Caso falhe em estabilizar o barco, a única saída viável será a antecipação de uma nova eleição para a presidência, desta vez, espera-se, sem a intromissão desastrosa do Palácio Municipal. A esperança é que os vereadores aprendam com os erros do passado recente e escolham um caminho de menos conflito e mais trabalho. O futuro da cidade depende dessa frágil paz.
.jpg)
Social Plugin