Cerco digital a servidores da Prefeitura de Itapetinga é a nova paranoia do Tiozão

Com medo de vazamentos para o sobrinho adversário, prefeito Eduardo Hagge transforma máquina pública em delegacia particular. Servidores trabalham vigiados, com celulares proibidos.

Cerco digital a servidores da Prefeitura de Itapetinga é a nova paranoia do Tiozão
Por ordem do prefeito de Itapetinga Eduardo Hagge, prefeitura vem monitorando servidores públicos. 

Um clima de caça às bruxas, patrocinado com dinheiro público, tomou conta da Prefeitura de Itapetinga. A principal missão secreta? Não é combater a ineficiência administrativa ou melhorar a saúde, que, vai de mal a pior. É espionar os próprios funcionários por ordem do chefe.

Denúncia publicada por colunista do IDenuncias expõe relatos de servidores públicos de uma operação de vigilância digital ordenada pelo prefeito Eduardo Hagge (MDB). O motivo da paranoia? Pavor de que informações de sua administração vazem para seu antecessor e, pasmem, sobrinho, e ex-prefeito Rodrigo Hagge, e outros adversários na Câmara de Vereadores.

No centro do esquema estaria uma empresa de informática, contratada com dinheiro do contribuinte, que teria implantado um software de monitoramento nos computadores da prefeitura. O sistema, segundo as fontes, não se limita a controlar produtividade. É uma ferramenta de espionagem, acessando comunicações pessoais e rastreando a atividade dos servidores até em redes sociais, prática que, na democracia, exigiria ordem judicial.

A gestora operacional desse cerco digital, apontam as denúncias, é a secretária municipal de Administração, Cristiane Anunciação Coelho. Sob ordens diretas do “Tiozão” Eduardo Hagge, ela teria sido a mandante da instalação do sistema. Para completar o clima de opressão, Cristiane proibiu os funcionários de sua secretaria de portarem celulares pessoais. A justificativa é risível: haver “documentos sensíveis” no local.

Portaria baixada pela Secretaria de Administração proibindo uso de celular de servidores em sua pasta.
Portaria baixada pela secretária de Administração proibindo uso de celular de servidores em sua pasta.

A medida, na prática, cria uma “zona de silêncio”, dificultando que servidores registrem qualquer abuso com seus próprios aparelhos. Uma tentativa clássica de eliminar testemunhas e controlar a narrativa.

Prefeito de Itapetinga pede que secretária monitore acessos dos funcionários nos PCs da Prefeitura.

Quando a notícia veio a público, Cristiane Coelho fez o que toda autoridade acuada faz: correu para a rádio local aliada da gestão, para chamar tudo de “fake news”. Negou o monitoramento e disse que a proibição de celulares é um ato legal, não repressão. A credibilidade da defesa, no entanto, é a mesma de um vigilante dizendo que está só olhando as estrelas enquanto fuça a janela do vizinho.

A questão que fede mais que queijo do sertão é: o dinheiro que deveria ser usado para pavimentar ruas e comprar remédios está bancando um serviço secreto particular? A empresa de TI estaria, na verdade, vendendo tecnologia para transformar o local de trabalho em um panóptico, onde o prefeito é o olho que tudo vê, ou, pelo menos, tudo que ele acha que é ameaça.

O caso escancara um prefeito tão tomado por desconfianças e picuinhas familiares que transformou a administração pública em um campo de batalha digital. Servidores, especialmente os comissionados (aqueles que dependem do cargo dele), trabalham sob a sombra do medo. Um comentário mal interpretado, uma suspeita infundada de lealdade ao sobrinho rival, e cabeças podem rolar. 

Eduardo, cobra lealdade absoluta, dentro e fora da prefeitura. Mas, segundo relatos de funcionários, a realidade é outra: a gestão está sendo “demolida por críticas de difícil defesa pública”. Em linguagem de boteco, a galhardia do Tiozão não está sendo suficiente para segurar a boiada. E, como ele mesmo disseram, “de chicote nas mãos não dá para ter lealdade política”. A frase, que deveria ser uma metáfora, virou manual de instruções.

Até onde vai à paranoia de Eduardo Hagge? Até instalar câmeras nos banheiros? Até grampear o celular da nova titia? Enquanto isso, na Prefeitura do Tiozão, o serviço público virou uma série de espionagem barata, onde o maior inimigo a ser combatido não é a ineficiência, mas o fantasma do próprio sangue.