Motim no Ceará abala credibilidade de Moro nas redes sociais

Motim no Ceará abala credibilidade de Moro nas redes sociais

Com mais de 2 milhões de seguidores, Moro só teve apoio de 7% dos apoiadores em relação a sua atuação no motim de policiais no Ceará.

Motim no Ceará abala credibilidade de Moro nas redes sociais
Ministro da Justiça Sérgio Moro. Foto montagem IDenuncias


Desde que criou contas nas redes sociais, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, sempre contou com a sua alta popularidade e com o forte engajamento de seus apoiadores para manter o controle da narrativa política na área.

Com 2,1 milhões de seguidores no Twitter, Moro tem um exército de apoiadores fiéis que, em alguns momentos, mostra-se mais coeso e forte do que o do próprio presidente Jair Bolsonaro, que conta com 6 milhões de seguidores.

Porém, isso não impediu que, no caso da crise no Ceará, o governo federal tenha, pela primeira vez desde a sua posse, perdido a capacidade de pautar o tom e o ritmo do debate. Levantamento do boletim Fonte Segura, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indica que, com base em análise de sentimento aplicada a uma amostra aleatória de 368 menções à paralisação de policiais militares nos últimos quinze dias no Twitter, 48,4% das postagens foram negativas, isto é, críticas à paralisação.

Ao analisar mais de perto as críticas, encontramos a reprovação do comportamento dos policiais, como o fato de agirem encapuzados e terem sido flagrados ordenando o fechamento do comércio na cidade de Sobral, foi o principal motivo de crítica.

Já 46,7% dessas postagens foram neutras, ou seja, elas predominantemente reproduziam notícias sem juízo de valor. E apenas 4,6% das menções à crise no Ceará foram positivas. Como a versão que prevaleceu foi a de que o movimento era um motim e não uma greve legítima, a posição do governo federal saiu enfraquecida, que foi acusado de incitar a paralisação e de evitar declarações condenando o movimento.

Já com relação ao papel desempenhado por Sergio Moro, apenas 7% apoiaram a atuação do ministro, enquanto 48% foram críticas ao ministro (outras 40% foram neutras). Entre as principais críticas, destaca-se reprovação da sua infeliz declaração de que não haveria desordem nas ruas por conta da paralisação dos policiais, mesmo com a explosão de homicídios verificada no período.

Motim de policiais no Ceará
Motim de policiais no Ceará

Também teve impacto a revelação de que o diretor da Força Nacional de Segurança Pública, por coincidência coronel da ativa da Polícia Militar do Ceará, Aginaldo de Oliveira, e marido da deputada Carla Zambelli, uma das principais apoiadoras do governo no Congresso, dividiu palanque com as lideranças do movimento e chamou os manifestantes de gigantes e corajosos.

Ou seja, a crise do Ceará não mudou a bombástica equação estrutural que a gestou. Porém, pela primeira vez desde que Jair Bolsonaro e Sergio Moro assumiram o poder, eles perderam a narrativa nas redes sociais e encontraram limites ao discurso de incentivo do uso da violência.

A disposição até agora reafirmada do governo do Ceará de não ceder e não anistiar os policiais, com apoio de outros governadores, do Ministério Público e do Judiciário, contrariou a lógica até aqui vigente e provocou uma inflexão importante na cena política.

Nas últimas três décadas, o Congresso Nacional pautou o tema da anistia a policiais grevistas com considerável frequência. Neste período, quatro leis federais que anistiavam policiais e militares foram aprovadas, todas na última década (propostas por parlamentares de esquerda, centro e de direita).

Assim, todas as greves de policiais ocorridas entre 1997 e 2016 foram anistiadas pelo Congresso Nacional. Não à toa, o sentimento até então predominante era que paralisações não geravam maiores consequências jurídicas e legais, na medida em que elas contavam com respaldo de parcelas da opinião pública e com retaguarda parlamentar para se evitar punições.

E, digno de destaque, o presidente Jair Bolsonaro, em sua longa vida parlamentar, foi uma das maiores lideranças dessa estratégia. Isso fortaleceu os movimentos paredistas e, mais do que nunca, a leitura foi a de que o Ceará seria forçado a ceder.

Sem perceber a guinada, contudo, o governo federal não conseguiu se eximir de responsabilidades e culpar exclusivamente o governo estadual pela crise. Como resultado, Moro teve um revés inédito e, sobretudo, os policiais que optaram por radicalizar posições, talvez contando com apoio e/ou suporte de legitimidade que Jair Bolsonaro e Sergio Moro tentaram aportar às suas causas, perderam espaço.