Na Bahia, o jogo virou. O governador Jerônimo Rodrigues consolida seu nome e força política, enquanto ACM Neto revê planos diante de um cenário desfavorável.
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Ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) |
Em 2022, a política baiana viveu uma reviravolta. ACM Neto, ex-prefeito de Salvador e até então franco favorito ao governo do estado, liderava com folga todas as pesquisas eleitorais. Do outro lado, um nome praticamente desconhecido para grande parte do eleitorado: Jerônimo Rodrigues, do PT, que disputava sua primeira eleição e carregava a pesada missão de manter a hegemonia petista no comando do Palácio de Ondina.
Mas o cenário mudou drasticamente na reta final. Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acelerando sua campanha pelo terceiro mandato e intensificando sua presença na Bahia, Jerônimo foi impulsionado por uma verdadeira onda vermelha. Apoiando-se no prestígio de Lula no estado e no então governador Rui Costa, o petista virou o jogo. Por pouco não venceu no primeiro turno, e acabou garantindo a vitória no segundo, num desfecho dramático que deixou o carlismo atordoado.
Agora, em 2025, os ventos políticos sopram em outra direção, e não necessariamente a favor de ACM Neto.
Diferente da última eleição, Jerônimo Rodrigues não é mais visto como o "poste" que precisava ser iluminado por Lula ou ex-governador e ministro Rui Costa. Sua presença no interior da Bahia, onde o eleitorado é decisivo, tem sido avassaladora. Cidades historicamente dominadas por lideranças carlistas estão sendo conquistadas por Jerônimo, que ganha musculatura política própria e apoios importantes, muitos deles oriundos de redutos onde ACM Neto era soberano.
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Nas palavras de um observador político de Salvador: “Jerônimo deixou de ser coadjuvante para assumir o papel de protagonista. Hoje, ele tem a máquina na mão, apoio popular e uma presença no interior que nenhum outro governador teve com tão pouco tempo de mandato.”
Se em 2022 o então candidato Jerônimo precisava da força de Lula para se viabilizar, hoje a equação parece invertida. A presença e o prestígio do governador da Bahia poderão ser cruciais para o projeto nacional do PT em 2026. A Bahia continua sendo o maior colégio eleitoral do Nordeste, e um dos mais estratégicos do país.
Nos bastidores, já se comenta que Lula dependerá fortemente da estrutura montada por Jerônimo para manter a vantagem eleitoral na região. A popularidade do governador, inclusive, já começa a se refletir também na capital, onde antes ACM Neto reinava absoluto.
Enquanto Jerônimo avança, ACM Neto parece encolher. Nas poucas pesquisas divulgadas até o momento, ele ainda aparece com boas intenções de voto, mas seu desempenho já não empolga nem os aliados mais próximos. O isolamento político, agravado por uma base cada vez mais frágil, coloca o ex-prefeito de Salvador diante de um dilema incômodo: manter uma candidatura ao governo com chances decrescentes ou buscar um caminho alternativo, como uma vaga na Câmara dos Deputados.
A disputa pelo Senado também não parece promissora. Com os petistas e ex-govenadores Rui Costa e Jaques Wagner apontados como favoritos para as duas vagas que estarão em disputa em 2026, resta a ACM Neto a possibilidade de disputar cargos menos estratégicos ou correr o risco de mais uma derrota nas urnas.
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Com base eleitoral restrita às cidades de Salvador e Luiz Eduardo Magalhães, esta última, um dos últimos bastiões do carlismo no interior, Neto parece perceber que o tempo político não joga mais a seu favor.
Se em 2022 o desfecho da eleição foi uma surpresa, em 2026 o roteiro pode ser bem diferente. Jerônimo Rodrigues caminha para a reeleição com um projeto político sólido, apoio em todas as regiões do estado e, principalmente, uma identidade própria que o afasta da dependência exclusiva de Lula. O governador já não precisa de ondas externas para surfar. Ele próprio se tornou a maré que arrasta o tabuleiro da política baiana.
Já para ACM Neto, o tempo de bonança parece ter ficado no passado. E, se não reinventar seu projeto nos próximos meses, poderá encerrar sua carreira como um dos maiores casos de “quase” da política nacional.
É Bahia, é vida que segue...
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