Acuado, Bolsonaro visita Aras na PGR, em uma clara tentativa de evitar uma possível denuncia.
Visita do presidente Jair Bolsonaro a Aras na PGR foi mais um apelo do presidente para não ser denunciado |
A visita surpresa do presidente Jair Bolsonaro ao chefe da Procuradoria-geral da Republica, Augusto Aras, não caiu bem no meio jurídico, e muito menos para os procuradores da republica que viram na visita uma forma do padrinho de Aras na PGR, induzi-lo a não denunciar o presidente no caso da interferência na Polícia Federal (PF).
A ida de Jair Bolsonaro a PGR poderia ter sido interpretado como uma visita de cordialidade de um mandatário prestigiando o órgão, mas se não fosse um investigado e Aras o seu investigador em inquérito sobre crimes de responsabilidade na Presidência, que coloca Bolsonaro no centro de uma investigação comandada pelo ministro Celso de Mello no Supremo Tribunal Federal sobre a ingerência do presidente na PF para proteger seus familiares e amigos.
Bolsonaro participava por videoconferência da posse de Carlos Alberto Vilhena na Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão quando, em um gesto interpretado como sendo de pressão, convidou a si mesmo para ir à PGR cumprimentar pessoalmente o recém-empossado no cargo, que aparentemente de pouco ou nenhuma importância na relação dos poderes da Republica.
Como se fosse “Flash” personagem em quadrinhos da Marvel. Bolsonaro quase instantaneamente chegou a PGR, apenas para apertar a mão do novo membro do colegiado da Procuradoria-geral da Republica. Aras, agradeceu a visita dizendo “Recebo com a mesma alegria de sempre”.
Sorrisos e afagos não faltaram na visita, afinal foi o presidente Bolsonaro que indicou Aras para chefiar a PGR. Tendo o primeiro gesto da gratidão, no pedido ao ministro Celso de Mello uma censura no polêmico vídeo ministerial de abril, muito mais abrangente do que a solicitada pela defesa do presidente. Aras argumentou que a transparência ao público, reivindicado por outro investigado, no caso, Sergio Moro, daria à oposição chance de “uso político, pré-eleitoral (2022)”, criando “instabilidade na republica”.
Celso percebeu o gesto de gratidão de Aras para com o presidente Bolsonaro, e recusou, lembrando ao Chefe da PGR que, no regime democrático, o Ministério Público não pode sequer manifestar a “pretensão” de restringir o direito de investigado ou réu em ver produzidas ou ter acesso a provas que possam favorecê-lo. A Constituição impõe publicidade aos atos de agentes públicos, observou. E, no caso, nem o governo se preocupara em tratar a reunião com sigilo.
O presidente Bolsonaro vem afirmando e divulgando nota oficial respondendo à acusação de ter interferido na Polícia Federal (PF). "Nunca interferi nos trabalhos da Polícia Federal. São levianas todas as afirmações em sentido contrário. Os depoimentos de inúmeros delegados federais ouvidos confirmam que nunca solicitei informações a qualquer um deles. Espero responsabilidade e serenidade no trato do assunto", afirma o presidente, na nota. "Por questão de Justiça, acredito no arquivamento natural do inquérito que motivou a divulgação do vídeo", acrescentou Bolsonaro.
A derrota de Aras no STF, representou apenas um desconforto para o Procurador-geral da Republica, afinal quem denuncia ou não o presidente é Aras. Se Bolsonaro anda acuado, a ida a PGR foi benéfica para o atabalhoado presidente, que precisa mais do que nunca que o procurador-chefe pague o favor de sua indicação.