Em inéditas mensagens trocadas da Lava Jato, procuradora diz que quer atingir Lula na cabeça, após condução coercitiva do ex-presidente em 2016.
Desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve autorização da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) para ter acesso ao compartilhamento de mensagens da Operação Spoofing que revelam conluio entre procuradores da Operação Lava Jato, como o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro na condenação do petista. A defesa do ex-presidente não perde tempo ao divulgar a imprensa trechos inédito das conversas hackeada do celular do ex-juiz Moro.
Em documento mais recente, enviado pela defesa de Lula a Suprema Corte nesta sexta-feira, 12, as mensagens mostram procuradores discutindo a necessidade de ‘atingir Lula na cabeça’ para ‘vencermos as batalhas já abertas’.
“Depois de ontem, precisamos atingir Lula na cabeça (prioridade número 1), para nós da PGR, acho que o segundo alvo mais relevante seria Renan [Calheiros, ex-presidente do Senado]”, diz mensagem atribuída à procuradora Carolina Rezende, que integrava a equipe do então chefe do Ministério Pública Federal, Rodrigo Janot. “Vamos torcer pra esta semana as coisas se acalmarem e conseguirmos mais elementos contra o infeliz do Lula”, acrescenta.
Essa troca de mensagens, ocorreu em 5 de março de 2016, um dia depois de Lula ter sido conduzido coercitivamente, por ordem do então juiz Sérgio Moro, para ser interrogado pela Polícia Federal. Na época a decisão de Moro gerou pesada criticas ao magistrado de Curitiba e provocou acaloradas discursões nos meios jurídicos e político que avaliaram como desnecessária o mandato de condução do ex-presidente.
Em 2018, STF declara inconstitucional a condução coercitiva para interrogatórios. O Supremo decidiu que é preciso que a testemunha ou o acusado tenham deixado de comparecer a uma audiência sem motivo justificado para emitir mando coercitivo.
No mesmo dia, segundo diálogos da petição, a força-tarefa combina a divulgação de uma nota a favor de Moro, criticado por determinar a condução do petista, para ‘não deixar um amigo apanhar sozinho’, nas palavras de um dos procuradores.
Na mesma conversa, a procuradora Carolina Rezende desaconselha ofensiva contra o Supremo Tribunal Federal naquele momento. “Não temos como brigar com todos ao mesmo tempo. Se tentarmos atingir ministros do STF, por exemplo, eles se juntarão contra a LJ [Lava Jato], não tenho dúvidas. Tá de bom tamanho, na minha visão, atingirmos nesse momento o ministro mais novo do STJ [Marcelo Navarro Ribeiro Dantas]. Acho que abrirmos mais uma frente contra o Judiciário pode ser over“, diz.
Em outra sequência de mensagens, trocadas em setembro de 2016, o então coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, avisa aos colegas que havia se reunido com Moro e que o ex-juiz estava ‘irredutível’ sobre o prazo para apresentação da denúncia contra Lula por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do Sítio de Atibaia. “Tem que ser feito”, avisa aos procuradores.
Na petição, a defesa de Lula destaca uma das conversas obtidas, na qual a procuradora Lívia Tinoco, diretora cultural da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), diz que “TRF, Moro, Lava Jato e Globo” tinham sonho de ver Lula preso para um “orgasmo múltiplo, para ter tesão”. A declaração foi feita no dia em que o ex-presidente foi preso, em 7 de abril de 2018. (fonte O Estado de S.Paulo)