Prefeito de Itapetinga articula para evitar instalação de CPI na Câmara ao pressionar vereadores por retirada de assinaturas em meio à negação de envolvimento em trama.
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Prefeito de Itapetinga envia a Câmara de vereadores nota de esclarecimento negando participal em trama contra vereador. |
A “Nota de Esclarecimento” divulgada pelo prefeito de Itapetinga, Eduardo Hagge, para tentar apagar o incêndio político causado pela polêmica carta enviada ao governador Jerônimo Rodrigues, acabou trazendo mais fumaça que luz. No documento, direcionado ao presidente da Câmara Municipal, Hagge nega qualquer participação no ofício que pedia ao governador para interferir em um julgamento no TSE, o que, na prática, poderia levar à cassação do mandato do vereador Diego Rodrigues, o Diga Diga, opositor ao prefeito.
O problema é que a nota, de tom mais protocolar do que explicativo, deixou contradições e levantou ainda mais suspeitas entre vereadores da base governista e da oposição. Muitos enxergam que Eduardo pode, sim, ter tido conhecimento prévio do pedido que, se atendido, configuraria uma absurda tentativa de coação em um processo judicial em andamento na mais alta Corte Eleitoral do país.
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Logo no primeiro parágrafo, o prefeito tropeça no próprio texto: afirma que só soube da carta-ofício na quinta-feira, 7 de agosto. Mas o episódio veio à tona no dia anterior, quarta-feira (6), quando o próprio Diga Diga denunciou o caso em plenário. Pior: uma hora depois do discurso do vereador no plenário do legislativo, o secretário de Governo, Geraldo Trindade, já estava no Legislativo para dizer que o prefeito não tinha nada a ver com o assunto. Ora, se o secretário se mexeu no mesmo dia, como o prefeito só teria “descoberto” no dia seguinte?
Nota de esclarecimento do prefeito de Itapetinga Eduardo Hagge a Câmara de Vereadores.
Na nota, Eduardo Hagge reforça que não emite ofícios sem assinatura ou timbre oficial da Prefeitura, e que, mesmo com seu nome no documento, a carta foi enviada sem seu conhecimento. Finaliza reafirmando “respeito às instituições democráticas” e à separação dos poderes. Mas a pergunta que não cala é: se ele não sabia, como o ofício foi parar nas mãos de um agente do Palácio de Ondina para ser protocolado? E, mais importante, quem entregou?
Prefeito Eduardo Hagge nega trama para cassar vereador Diga Diga, mas aliados já desconfiam (Click Aqui)
Nos bastidores, a unanimidade é rara, mas desta vez vereadores governistas e oposicionistas concordam: Eduardo sabia de tudo. “Ele está dando uma de João sem braço. Tentou tirar Diga Diga para botar no lugar o vereador Valdeir Chagas, que agora é aliado dele. Só que deu errado, porque o governador não topou”, disse um parlamentar, em off.
Com a repercussão da tentativa de derrubar um vereador por interferência de um governador, o espírito de corpo falou mais alto na Câmara. Vereadores de oposição e até governistas, incluindo o líder do prefeito no Parlamento, assinaram um requerimento para abertura de uma CPI, que vai apurar quem entregou a carta ao agente da Governadoria do Estado. O documento já conta com 10 assinaturas, o dobro das 5 necessárias para instalação.
Sabendo do risco, o prefeito e seus auxiliares entraram em campo para convencer aliados a retirarem as assinaturas antes da leitura do pedido em plenário. Com o entendimento do STF de que CPI é atribuição da minoria parlamentar, o presidente da Casa, Lúcio Almeida (MDB), aliado fiel de Eduardo Hagge tem poucas manobras para barrar a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito.
Governador rejeita pedido do prefeito de Itapetinga para derrubar vereador Diga Diga no TSE (Click Aqui)
O episódio é mais que uma crise: é um sinal claro de que Eduardo Hagge começa a perder força no Parlamento. E, na política, quando a base começa a rachar, o castelo do poder nunca mais é o mesmo.
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