Marmita: o que leva vereadores petista, pastor e ativista social a votar contra uma lei de combate a fome

Votação que derrubou vetos do prefeito Eduardo Hagge expõe contradição de petista, pastor e ativista que rejeitaram programa de marmitas solidárias para pobres.

Marmita: o que leva vereadores petista, pastor e ativista social a votar contra uma lei de combate a fome
Na imagem: Vereadores Sibele Nery (PT), Pastor Jean Doriel (PL) e Manu Brandão (MDB).

Uma votação histórica na Câmara de Itapetinga, na última terça-feira (19), foi um terremoto político que revelou as frágeis fundações da base do prefeito Eduardo Hagge e, mais grave, a hipocrisia de quem veste a bandeira social apenas como disfarce. Enquanto a derrubada de vetos a projetos sociais era comemorada, um "não" ecoou de forma especialmente amarga: a rejeição de vereadores ditos comprometidos com o social ao "Programa Marmita Solidária", que alimentaria famílias em extrema pobreza.

O projeto, de autoria do vereador Valquirio Lima (Valquirião, MDB), era uma resposta direta à fome que infelizmente ainda assombra moradores da cidade. No entanto, na hora de abraçar a causa, figuras conhecidas por seu discurso em defesa dos mais vulneráveis recuaram. Preferiram a sombra do poder à luz da solidariedade.

O caso mais emblemático e dramático é o da vereadora Sibele Nery (PT). Esquecendo o histórico de luta do seu partido, um símbolo nacional de programas como o Fome Zero, ela virou as costas para os que mais precisam. A escolha da petista não foi pelo social, mas pelo cálculo político mesquinho: a lealdade a um prefeito que parece priorizar a economia política sobre a fome real de sua gente. Uma contradição que mancha a própria história que alega representar.

Ao seu lado, na trincheira da indiferença, estiveram o pastor Jean Dorial (PL) e a ativista Manu Brandão. O primeiro, que atua na recuperação de dependentes químicos, e a segunda, que brande a bandeira do ativismo social aos necessitados, deixaram cair a máscara. Ficou claro que a "fé" e o "ativismo" são, para eles, instrumentos para capitanearem votos, e não valores inegociáveis para defender o direito mais básico: o de se alimentar. Completaram o coro de "nãos" os vereadores Tiquinho Nogueira (PSD), Anderson da Nova (União Brasil) e Neto Ferraz (PDT).

Prefeito Eduardo Hagge sofre dura derrota na Câmara com derrubada de vetos (Click Aqui) 

A indignação reside no motivo: a obsessão em defender os vetos de um prefeito que, na prática, tentava impedir que pessoas pobres tivessem acesso a uma refeição digna. Tudo, aparentemente, para garantir a estabilidade de empregos de aliados na máquina pública, trocando a dignidade humana por moeda de barganha política.

Em meio à decepção, porém, brilhou a coragem de vereadores governistas e de oposição que não temeram a represália do prefeito Hagge. Eles lembraram em quem devem sua lealdade: no eleitor. O autor do projeto que agora, virou lei municipal, Valquirião, e os vereadores Daniel Lacerda (Pode), Sol dos Animais (Solidariedade), Peto (MDB), Telê (MDB), Tarugão (MDB), Diga Diga (PSD) e Sidinei do Sindicato foram os votos que garantiram que, ao menos em outros projetos sociais, a vontade do povo prevalecesse.

A sessão, que terminou com a derrota dos vetos do prefeito por 8 votos a 6, também derrubou o veto a outro projeto importante: o da pesca recreativa na Lagoa, de autoria do vereador Tarugão (MDB). Foi uma manhã de reviravolta, mas que deixou um gosto agridoce. Itapetinga conquistou avanços, mas descobriu, com profunda mágoa, que alguns de seus representantes estão mais dispostos a matar a fome do poder do que a fome de seu próprio povo.

‘Marmita solidária’ será sancionada pelo presidente da Câmara de Itapetinga, Luciano Almeida (MDB), e só a partir daí deva virar lei municipal.