Debandada na gestão Eduardo Hagge apressa fim dos gabirabas que não resiste ao herdeiro do clã

Herdeiro relutante, herança dilacerada: Como um "Hagge" sem traquejo político quebrou em 11 meses a máquina familiar que comandou a política por 45 anos.

Debandada na gestão Eduardo Hagge apressa fim dos gabirabas que não resiste ao herdeiro do clã
Anatomia de um desmonte: a gestão Eduardo Hagge que virou pó em menos de um ano. 

A história política de Itapetinga, nos últimos 45 anos, poderia ser contada como a crônica do clã Hagge. Gerações respirando, falando e comandando a política local. Uma máquina familiar que parecia inquebrável, sustentada por um grupo de fiéis seguidores conhecidos como "gabirabas". Até que o herdeiro escolhido para perpetuar a dinastia, Eduardo "Dudu" Hagge (MDB), mostrou-se a peça que não se encaixava no quebra-cabeça. E, em menos de 11 meses, transformou quatro décadas de legado em pó.

Dudu nunca quis ser político. Enquanto o pai, Michel Hagge, a irmã, Virginia, e o sobrinho, Rodrigo, construíam carreiras e administravam a cidade por cinco mandatos somados, ele era o próximo que preferia a sombra ao palco. Sua visão era "ante política". Mas o destino, ou melhor, a pressão dos gabirabas, o colocou de paraquedas na cadeira de prefeito.

Não é oposição que decretará o fim dos gabirabas, e sim sua própria cria

O plano era ousado. Os gabirabas pressionaram o então prefeito Rodrigo Hagge a trair o próprio vice, Renan Pereira (União Brasil), para lançar Eduardo. A missão parecia impossível: eleger um novato sem traquejo. Mas a máquina era forte, e Rodrigo, um estrategista eficaz. Conduziu o tio à vitória. A euforia foi tanta que os gabirabas já anunciavam nas redes sociais a perpetuação do clã: o próximo na fila seria o filho adolescente de Eduardo, o "Dudu Hagge" da nova geração.

O sonho que virou pesadelo

A euforia durou pouco. A decepção veio rápido, e a traição, mais rápido ainda. Antes mesmo de se acomodar na cadeira, o "prefeito dos sonhos" começou a cavar sua própria cova, arrumando uma briga com quem o colocou lá: o sobrinho Rodrigo Hagge.

O que era uma rusga familiar logo se tornou uma ruptura política. Assessorado por um novo círculo de aliados, Eduardo decidiu criar seu próprio grupo para enfrentar o sobrinho. Foi o primeiro passo para o abismo. Para se fortalecer, o prefeito teve uma ideia que chocou os gabirabas históricos: abrir as portas da prefeitura para os opositores que haviam apoiado sua rival, Cida Moura (PSD). Cargos foram oferecidos em troca de lealdade a ele, e não ao clã ou a Rodrigo.

A estratégia rachou o grupo ao meio. Eduardo começou a escorraçar vereadores gabirabas até de seu próprio partido, cobrando uma fidelidade incondicional a sua pessoa. A herança do patriarca Michel Hagge, o "velho gabiraba", estava sendo desmontada pelo próprio filho.

O golpe de misericórdia e a ameaça final

O estopim da debandada foi uma jogada precipitada. A gestão demitiu antigos aliados do clã, usando como justificativa uma suposta "pressão do Ministério Público". O argumento, no entanto, não colou. As recomendações citadas referiam-se a cargos que nem existiam na estrutura municipal e eram de semanas anteriores.

A demissão sumária de companheiros de campanha foi um baque. Dez dias depois, veio a humilhação final: os mesmos servidores foram recontratados, mas com os salários cortados pela metade. Junto, veio um aviso que nem o patriarca Michel havia ousado dar: "se não houver lealdade ao prefeito, será demitido novamente."

Nas demissões, prefeito Tiozão prioriza as cabeças gabirabas 

A ameaça foi a gota d'água. A debandada, que já era um ralo, tornou-se uma enxurrada. Agora, o que resta do grupo tenta se agarrar a Rodrigo Hagge, na esperança de manter o sonho gabiraba vivo. Outros, desiludidos, se afastam da política de vez.

O fim melancólico dos gabirabas não veio de um oponente externo, mas de dentro de casa. A vaidade e a inexperiência de um Hagge que jamais quis a política foram suficientes para desagregar em meses o que foi construído em quase meio século. A anatomia do desmonte revela uma verdade cruel: às vezes, o herdeiro mais perigoso para um clã é aquele que nunca soube o que fazer com a herança.

É decadência, é vida que segue...