Seis mandatos dos Hagge, um legado em comum: o colapso na saúde que derruba reputações e enterra projetos de poder em Itapetinga.
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| Há mais de 40 anos, a família Hagge freta o poder municipal com fracasso retubante na saúde de Itapetinga. |
Olhe para a política de Itapetinga nas últimas quatro décadas e você verá um sobrenome gravado a ferro e fogo no poder municipal: Hagge. É uma dinastia que, se fizermos as contas, já sentou na cadeira de prefeito por seis gestões alternadas. Tudo começou com o patriarca, Michel Hagge, passou pelo neto Rodrigo Hagge, e hoje está nas mãos do filho (01) do velho gabiraba, Eduardo Hagge (MDB). O que esse clã, aparentemente tão vitorioso, tem em comum? Um ponto cego crônico, uma ruína que se repete: a saúde pública. É ela a fiadora das suas derrotas e a prova da incapacidade de gerir o que é mais complexo e vital para a população.
A saga começa em 1983, com Michel Hagge assumindo um município com problemas financeiros. Com trânsito em Brasília, ele conseguiu verbas federais, dos governos do ditador Figueiredo e Sarney, e estaduais João Durval e Waldir Pires, que bancaram sua administração, vendida como exemplo de "gestão com verba própria". Uma propaganda enganosa que deu certo. No entanto, os graves problemas de saúde da cidade, na eufória redemocratização, foram sendo varridos para debaixo do tapete.
O legado problemático foi herdado pelo sucessor apoiado por Michel, o médico José Marcos Gusmão. Em seu único mandato, Gusmão fez o básico que um especialista faria: priorizou e corrigiu as mazelas na saúde. Mas eis que, em 1993, Michel Hagge retorna ao poder. Em vez de aprimorar os avanços do antecessor, movido por uma vingança política contra Gusmão, agora seu inimigo, ele simplesmente desmontou os programas de saúde. Foi um erro grosseiro e cruel, que culminou no colapso sanitário e na humilhante derrota do seu candidato em 1998 para… outro médico, José Otavio Curvelo. Pela segunda vez, um médico precisou entrar para consertar o caos que Michel deixou na Saúde.
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A história, em Itapetinga, parece gostar de ironias. Michel voltou em 2005, encontrando uma cidade organizada e em desenvolvimento, impulsionada pela fábrica Azaleia na gestão de Curvelo. O caminho era claro: manter e melhorar. Michel, porém, "fez tudo errado", como dizem os mais antigos. A saúde chegou ao caos absoluto, com trocas constantes de secretários. O descontrole foi tão grande que sua tentativa de reeleição foi um desastre, levando à vitória avassaladora do petista José Carlos Moura.
O ciclo de incompetência se repetiria na próxima geração. Rodrigo Hagge, neto do patriarca, governou de 2017 a 2024 e demonstrou que a saúde também não era seu forte. Mas ele tinha um bode expiatório pronto: a Fundação José Silveira, gestora do Hospital Cristo Redentor. Por oito anos, a fundação serviu de para-raios para as críticas, salvando a imagem de Rodrigo do desastre total na saúde pública.
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Agora, em 2025, a batata quente chegou às mãos do "tiozão" Eduardo Hagge. Inexperiente e embalado pela onda gabiraba, ele não tem mais o bode expiatório da fundação. O município agora administra seu próprio hospital. E os primeiros sinais são terrivelmente familiares: ameaças de médicos pararem por falta de pagamento, fornecedores sem receber, servidores da saúde com salários atrasados. Em menos de um ano, o prenúncio é de que tudo vai de mal a pior.
A lição que fica, após décadas de altos e baixos dos Hagge, é cristalina. Eles podem conseguir verbas, fazer pontes, asfaltar ruas e montar maquinarias políticas poderosas. Mas quando o assunto é gerir a complexa e sensível área da saúde que mexe diretamente com a vida e a dor das pessoas a dinastia patina, erra por orgulho, negligencia por incompetência e busca culpados ao invés de soluções. A saúde pública não é apenas a maior inimiga das gestões Hagge; é o espelho que reflete, eleição após eleição, a limitação do seu projeto de poder. E o povo de Itapetinga, cansado de ser refém desse ciclo, parece sempre encontrar, nas urnas ou no cotidiano dos hospitais, a forma de lembrá-los desse fracasso histórico.

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