Com Eduardo Hagge, Itapetinga vira quintal de Geddel

Na crise familiar com o sobrinho, prefeito entrega o legado do clã Hagge a um condenado por corrupção em troca de uma muleta política.

Ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB), voltar a ter influência política em Itapetinga, mesmo pesando contra ele, condenações por corrupção. 

A política itapetinguense vive um capítulo tragicômico, O Rei Lear, onde a vaidade de um herdeiro está dilapidando, em tempo recorde, o legado construído por seu pai ao longo de quatro décadas. O prefeito Eduardo Hagge (MDB), o "novato" que chegou ao poder carregado pelo sobrenome Hagge e pela astúcia política do sobrinho, Rodrigo Hagge, decidiu que a herança do velho Michel era pequena para os dois.

Cegou-o a vaidade. A necessidade de se afirmar como líder e neutralizar o sobrinho-mentor o levou a cometer a primeira e mais catastrófica gafe de sua gestão: trocar a base que o elegeu por uma suposta "arma" contra Rodrigo. Demitiu os gabirabas históricos e abriu as portas da prefeitura para ex-adversários, na ingênua esperança de que trariam consigo um exército de votos. Até descobrir, tarde demais, que havia trocado o concreto por areia.

Sem chão e sem apoio, Eduardo Hagge fez o que políticos em desespero costumam fazer: buscou abrigo no colo do diabo. E o diabo, na Bahia, tem nome, sobrenome e impressões digitais em malas de dinheiro. Geddel Vieira Lima, o ex-ministro condenado a 18 anos de prisão no escândalo das “malas de R$ 51 milhões”, encontrou em Itapetinga o quintal perfeito para sua tentativa de ressurreição política. Enquanto em outras cidades emedebistas seu nome é um tabu tóxico, na gestão Hagge ele é tratado como conselheiro de confiança.

Prefeito Eduardo Hagge se alinha a acusados de corrupção para neutralizar candidatura de Rodrigo Hagge.

A imagem é surreal. O prefeito, filho do patriarca que construiu uma trajetória de respeito local, agora se aconselha com um político cuja biografia inclui os presídios da Papuda e a Mata Escura. E o conselho de Geddel não poderia ser mais claro: a aliança tem um preço. Ele já apresentou a lista de deputados que Eduardo Hagge deve apoiar, seu primo, Jayme Vieira Lima, para federal, e o polêmico Carlinhos Sobral, para estadual. A estratégia é transparente: criar um cordão sanitário estadual para asfixiar a eventual candidatura do sobrinho Rodrigo Hagge.

Cai na rede a ficha ‘suja’ do candidato a deputado estadual do prefeito de Itapetinga Eduardo Hagge. 

O que Eduardo Hagge parece não perceber, ou preferir ignorar, é que ele não é um parceiro nessa aliança, mas um instrumento. Geddel não quer salvar Itapetinga, nem muito menos o prefeito; quer salvar a si próprio, e Itapetinga é o laboratório disponível. O prefeito, em sua crise familiar, abriu mão da autonomia política do município, transformando-o em moeda de troca para uma guerra pessoal. 

O velho Gabiraba, que trouxe Geddel para a cidade em seus anos de reputação intacta, deve se revirar no túmulo. Seu filho, na ânsia de vencer o sobrinho, não apenas rachou a estrutura do grupo familiar, mas entregou as chaves do patrimônio político da família justamente ao tipo de figura que a política tradicional da cidade, um dia, soube distinguir. Itapetinga, outrora um feudo de um clã com raízes, tornou-se o quintal de um condenado em busca de redenção. E o jardineiro, Eduardo Hagge, acha que está no comando enquanto apenas rega as plantas para um novo dono.