Além de partos, crise no Virginia Hagge ameaça parir na gestão Eduardo Hagge mais um desgaste político

Sem anestesistas e com salários atrasados, hospital pode parar de fazer partos; situação expõe a conta que não fecha da saúde pública em Itapetinga e uma herança que o prefeito de não consegue administrar.

Além de partos, crise no Virginia Hagge ameaça parir na gestão Eduardo Hagge mais um desgaste político
Crise financeira no Hospital Municipal Virginia Hagge de Itapetinga.

A gestão do prefeito Eduardo Hagge (MDB) parece seguir um roteiro previsível: todo mês, uma nova crise política. E dezembro não será diferente. Uma bomba-relógio armada no Hospital Municipal Virginia Hagge, que leva o nome da irmã do prefeito, ameaça explodir e deixar mães e recém-nascidos em apuros.

A crise tem data para estourar: 10 de dezembro. É o prazo final que cinco médicos anestesistas deram para o pagamento de seus salários atrasados. Se o dinheiro não entrar, a equipe pede desligamento. E sem anestesista, não há parto. Ponto final.

O problema é que essa não é uma crise qualquer. É o calcanhar de aquiles da família Hagge na administração de Itapetinga. E a situação agora é ainda pior. Com o fechamento do centro obstétrico do Hospital Cristo Redentor para abrir espaço para a oncologia, o Virginia Hagge virou a principal e em muitos casos, a única opção para os partos na cidade. A UPA de Itapetinga pode até tentar absorver os partos de emergência mais simples, mas se houver qualquer complicação, a situação vira uma roleta russa para as gestantes.

A conta que não fecha

O aviso dessa crise já tinha sido dado. Colunistas do IDenuncias já alertavam que a prefeitura, com verba federal limitada e arrecadação própria baixa, não daria conta de bancar um hospital municipal. A conta é alta e o risco sempre foi de que, para tentar tapar um buraco, outros fossem abertos em postos de saúde e na UPA.

Hospital Municipal, um erro de cálculo do prefeito Rodrigo Hagge de futuro duvidoso. Entenda

Eduardo Hagge, que completa 11 meses de governo no meio de um turbilhão, herdou esse abacaxi do seu sobrinho, o ex-prefeito Rodrigo Hagge. Foi Rodrigo quem, em meio a uma briga feia com a Fundação José Silveira, decidiu construir o hospital municipal. A ideia pode ter soado bem na política, mas, na prática, virou um elefante branco caríssimo. O tio, agora, não consegue nem manter os salários em dia e vive com fornecedores no calote.

Crise de gestão e... de imagem

Enquanto a crise na saúde fervilha, a imagem do prefeito não vai melhor. Há poucos dias, ele foi alvo de críticas por não comparecer e nem mandar um representante à inauguração do novo núcleo de câncer, um marco para a cidade. Onde estava Eduardo Hagge?

A população descobriu: ele estava em um resort em Ilhéus, curtindo com a nova namorada. Para piorar, o secretário de governo, Geraldo Trindade, que o acompanhava, fez questão de postar uma foto à beira-mar. O contraste entre a badalação na praia e o desespero silencioso no hospital não poderia ser mais cruel.

Além de partos, crise no Virginia Hagge ameaça parir na gestão Eduardo Hagge mais um desgaste político.

A história se repete para os Hagge. O patriarca Michel, pai de Eduardo, perdeu uma eleição justamente por causa da saúde. O neto Rodrigo quebrou a cara na briga com a fundação hospitalar. Agora, Eduardo parece caminhar a passos largos para o mesmo destino.

A solução, no final, pode ser um pedido de socorro. Eduardo Hagge talvez tenha que admitir a própria incapacidade de gerir o Virginia Hagge e, quem sabe, entregar a unidade para a Fundação José Silveira, uma jogada de humildade que o falecido médico Arnaldo Teixeira fez com a Santa Casa, para salvá-la do fechamento. O prefeito aprende com os erros do passado? Ou vai insistir no mesmo caminho que já mostrou não dar certo? 

É crise na saúde, é vida que segue...