A guerra de egos entre tio e sobrinho pelo legado dos 'Gabirabas' esvazia a base do prefeito e ameaça enterrar o sonho petista de quebrar a tradição antipetista da cidade.
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| Governador da Bahia Jerônimo Rodrigues (PT) e o prefeito de Itapetinga Eduardo Hagge (MDB). |
No palco principal, temos um drama familiar com direito a legado, traição e uma disputa pelo trono de um grupo político em frangalhos: os tais “Gabirabas”. O enredo é tão complexo que ameaça desmontar a estratégia do governador Jerônimo Rodrigues (PT) para conquistar, finalmente, um lugarzinho ao sol em uma cidade que historicamente trata a esquerda estadual como visitante indesejada.
Do lado de cá do balcão, o plano de Jerônimo para 2026 parece simples: virar o jogo em um tabuleiro que sempre lhe foi adverso. Itapetinga, sabe-se, é daquelas cidades onde candidato a governador do PT vai mais para fazer número. A missão do governador é hercúlea, mas possível. O problema é que sua ambição esbarrou num Faroeste Familiar: a briga entre o prefeito Eduardo Hagge (MDB) e seu sobrinho, o ex-prefeito Rodrigo Hagge.
A treta, intensificada após a morte do patriarca Michel Hagge, deixou o grupo Gabiraba em estado terminal. E aqui começa a ironia política: em vez de seguir o manual básico que manda somar para vencer, o prefeito Eduardo resolveu adotar a tática de dividir para conquistar. Promoveu um expurgo na prefeitura, chutando para escanteio os gabirabas históricos, aqueles fiéis à memória de seu pai, e abrindo os braços para ex-adversários de campanha.
Debandada na gestão Eduardo Hagge apressa fim dos gabirabas que não resiste ao herdeiro do clã.
O tiro, como era de se esperar, saiu pela culatra. Os gabirabas expurgos, sem ter para onde correr, fugiram em massa para os braços do sobrinho, Rodrigo Hagge. E é aí que a história fica picante para Jerônimo. Esse rebanho desgarrado, agora abrigado no curral de Rodrigo, não está nem um pouco a fim de apoiar o governador petista. Pelo contrário: a aposta da turma é em ACM Neto (União Brasil). Pesquisas internas já mostram o carlista empatado e até à frente de Jerônimo na cidade, um pesadelo para o projeto de expansão petista.
Enquanto o tio Eduardo, com a máquina pública na mão, se mostra um aliado de pouca musculatura, não consegue agregar novos votos a Jerônimo e se mantém basicamente com a turma que já votava no PT, o sobrinho Rodrigo dá uma aula de jogo político de longo prazo. O ex-prefeito entrou no modo “paz e amor”. Não se desgasta brigando por voto de Lula (sabe que o presidente leva a cidade) e nem se precipita em campanha para senador.
A jogada mestre de Rodrigo é mais sutil: ele negocia nos bastidores o apoio da líder oposicionista Cida Moura (PSD). Em troca do apoio dela para sua candidatura a deputado estadual, ele a retribuiria apoiando Cida para prefeita em 2028, com o direito de indicar o vice. É uma jogada de mestre que isola ainda mais o tio e fortalece a corrente que puxa para ACM Neto.
No fim das contas, a única certeza nesse imbróglio todo é que a vitória de 60% de ACM Neto na cidade, como na eleição passada, está descartada. Para Jerônimo, porém, isso é um consolo frio. A possibilidade de um vexame nas urnas de Itapetinga é real. O governador terá que navegar com a precisão de um cirurgião entre as vaidades dos Hagge, tentar levar Cida Moura para as ruas sem desagradar ninguém, e torcer para que as pesquisas internas lhe mostrem um caminho.
Exterminador de Gabirabas: o futuro sombrio do clã Hagge
A moral da história? Às vezes, o maior inimigo de um plano grandioso não é o adversário histórico, mas uma briga de família que ninguém viu chegando. E Jerônimo, que queria fazer história, pode acabar sendo apenas um espectador de luxo do desmanche dos Gabirabas.

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