Drama político se repete: herdeiro dos Hagge, isolado e à deriva, vê história de humilhação familiar renascer enquanto aliados abandonam o barco.
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| Na imagem: mãe do atual prefeito de Itapetinga, senhora Iracema Hagge, ex-prefeito falecido Michel Hagge e Eduardo Hagge atual gestor municipal. |
A política em Itapetinga parece presa a um roteiro de tragédia grega. Um clã poderoso, uma queda estrondosa, e a sensação incômoda de que o passado está prestes a cuspir seu veredito sobre o presente. A história que vamos contar hoje tem drama, tensão, disputa acirrada e aquele sabor amargo da rivalidade que só as cidades do interior conhecem. Preparem-se para o capítulo mais recente da saga dos Hagge.
Tudo começa em 2008. O patriarca, Michel Hagge, buscava a reeleição em um terceiro mandato já cambaleante. A saúde pública estava um caos, o secretariado era uma porta giratória e o descontentamento era público e notório. Nas palavras de um antigo correligionário, "naquele pleito, só os gabirabas mais cegos acreditavam na vitória". Do outro lado, o petista José Carlos Moura, capitalizando o descontentamento geral e unindo forças antes dispersas, construía uma onda imparável.
O resultado foi um terremoto político: uma surra de quase 7 mil votos. Michel Hagge foi varrido do poder por uma enxurrada de votos nascida nas famosas "domingueiras 13", caminhadas e comícios que galvanizaram a cidade. José Carlos Moura assumiu e governou por oito anos, enterrando, na época, a hegemonia dos Hagge.
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| Derrotado por Michel Hagge em eleição anterior, José Carlos Moura volta atropelando o velho gabiraba com vitória acachapante sobre o então prefeito emedebista que disputava à reeleição. |
Agora, feche os olhos e troque os nomes. A sensação é de déjà vu. O filho, Eduardo Hagge, o “Tiozão”, ocupa hoje a cadeira que já foi de seu pai. E, em menos de 11 meses de governo, a história começa a desenhar curvas perigosamente familiares. O secretariado muda como quem troca de camisa. A saúde, o calcanhar de aquiles da família, volta a sangrar, e desta vez, ironicamente, no hospital que leva o nome de sua própria irmã, Virginia Hagge.
A Grande Diferença (e Ela é Pior). Mas há um elemento novo nesta repetição histórica, e ele é ainda mais devastador. Michel Hagge, em seu pior momento, ainda tinha seu grupo. Ainda era o patriarca dos "gabirabas". Eduardo, no entanto, está sozinho.
O atual prefeito cometeu o pecado político capital: brigou com a base que o elegeu. Seu movimento mais espetacular e, nos bastidores, considerado um suicídio, foi romper com o sobrinho, o ex-prefeito Rodrigo Hagge. Foi Rodrigo, o herdeiro político mais popular do clã, quem articulou e carregou Eduardo até a prefeitura nas costas. Ao virar as costas para o sobrinho, Eduardo não apenas rachou o grupo que seu pai construiu; ele dinamitou a própria fundação de seu poder, onde, hoje, é chamado de “Exterminador de gabirabas”.
Os "gabirabas" da velha guarda, aqueles fiéis à memória de Michel, veem em Rodrigo a última esperança de sobrevivência. Eles sabem, e a cidade comenta, que Eduardo não teria sido eleito por mérito próprio, mas pelo capital político e pela habilidade do sobrinho. Agora, isolado, o prefeito tenta um malabarismo desesperado: abandona aliados históricos para se aproximar de adversários que o atacaram ferozmente na campanha. A estratégia é vista como desastrosa e sem lógica.
Debandada na gestão Eduardo Hagge apressa fim dos gabirabas que não resiste ao herdeiro do clã.
E assim, o círculo começa a se fechar. O destino, com seu senso de humor cruel, prepara a revanche. Rodrigo Hagge, o sobrinho traído, será candidato a deputado estadual em 2026. E, nos corredores do poder, sussurra-se sobre uma aliança que faria o patriarca Michel se revirar no túmulo: Rodrigo e a líder opositora Cida Moura (PSD) articulam uma força conjunta não apenas para eleger o neto a deputado, mas para enterrar de vez a carreira do tio em 2028.
A mesma fórmula que ressuscitou os Hagge do ostracismo em 2014, a união com um inimigo político poderoso, na época, ex-prefeito José Otavio Curvelo, agora se volta contra o herdeiro direto. A maldição se completa. Eduardo Hagge, o "Tiozão", não está apenas repetindo os erros do pai. Ele está cavando um buraco mais fundo, assistindo, impotente, enquanto o fantasma da derrota de 2008 ronda seu gabinete, e a própria família prepara o terreno para sua queda.
A plateia de Itapetinga se acomoda. O próximo ato desta dramática peça política promete ser eletrizante.
É déjà vu, é vida que segue…


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