Diretor do SAAE resiste pedido do prefeito Eduardo Hagge para demitir 'gabirabas'

Airton Ferraz, gestor que salvou a autarquia da falência, enfrenta pressão por expurgo político; aliados de Eduardo Hagge alertam para risco de crise administrativa.

Diretor do Serviços de Água e Esgotos de Itapetinga (SAAE), Airton Ferraz.

Enquanto o prefeito Eduardo Hagge (MDB) tenta concluir uma “faxina geral” de aliados de ex-gestões, a resistência de um diretor considerado competente expõe rachaduras na Prefeitura e acende o clima de medo entre servidores indicados da política.

Em um movimento que mistura cálculo político, vingança e tensão silenciosa, a administração do prefeito Eduardo Hagge vive seu momento mais dramático desde o início do mandato. O alvo é o Serviço de Água e Esgoto (SAAE), autarquia que se tornou o último reduto de resistência ao expurgo de servidores ligados aos ex-prefeitos Michel Hagge e Rodrigo Hagge – pai e sobrinho do atual chefe do Executivo. No centro do embate está o diretor Airton Ferraz, gestor que recuperou financeiramente o órgão e agora se recusa a demitir “gabirabas” por motivos políticos.

 Em ato insano, prefeito Eduardo Hagge sepulta os últimos gabirabas e saruês da Prefeitura

A ordem partiu do gabinete do prefeito, pressionado por um grupo interno que sussurra nos ouvidos de Hagge: um suposto genro, um dirigente partidário influente, um vereador do PSD vindo da oposição e o secretário de governo. Juntos, eles conduzem o que aliados afastados chamam de “caça implacável” aos que ajudaram a eleger Eduardo. O início da onda de demissões foi abrupto: na madrugada de sexta para sábado, 20 de dezembro, funcionários receberam comunicação de exoneração sem aviso prévio.

Mas no SAAE, a ordem esbarrou em Ferraz. Considerado um gestor de competência rara, ele é creditado por tirar a autarquia do colapso financeiro – situação que, no passado, levou à discussão sobre privatização. Demiti-lo ou forçá-lo a cumprir a “lista de expurgo” seria, na avaliação de parte dos aliados do prefeito, um risco administrativo desnecessário. “Seria trocar um gestor que não dá dor de cabeça por uma crise certa no abastecimento de água”, confidencia um assessor, sob condição de anonimato.

O silêncio público do prefeito só aumentou a tensão. Em entrevista coletiva na segunda-feira, 22 de dezembro, Hagge evitou o tema e, quando pressionado, classificou as demissões como “coisas pesquenas” pronúncia coloquial que ecoou nos corredores da prefeitura como sinal de desdém. O termo, porém, contrasta com o clima interno: servidores vivem sob “ameaça de demissão” se ousarem questionar publicamente as exonerações.
'Coisas pequenas', diz prefeito Eduardo Hagge sobre demissões em massa de aliados

Há quem veja na resistência de Ferraz não apenas uma defesa de quadros técnicos, mas um ato de sobrevivência política. Sua independência tornou-se um trunfo perigoso. Se ceder, perde autoridade e entrega a autarquia ao controle político puro; se resistir, pode ser o próximo a cair, arrastando consigo a estabilidade do SAAE.

Nos bastidores, a questão divide a cúpula do governo. De um lado, os “linha-dura” do prefeito, para quem a lealdade deve ser absoluta e o passado político, varrido. Do outro, aliados mais pragmáticos, que enxergam na perseguição a “gabirabas” um risco eleitoral e administrativo. “Estamos trocando competência por vingança”, resume um deles.
Guilhotina do Tiozão rola mais 15 cabeças de aliados na Prefeitura

Enquanto o impasse perdura, a prefeitura respira um ar de tabu e temor. O que estava planejado como uma faxina rápida transformou-se numa guerra de poder, onde a água pode virar não apenas um serviço, mas o campo de batalha que definirá até onde vai a purga na era Hagge.