De “fiéis seguidores” a “coisas pequenas”: como um vídeo, demissões e uma aliança com ex-inimigos viraram o jogo (e o grupo) contra o “Tiozão”.
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| Bastidores de uma entrevista colativa convocada pelo prefeito de Itapetinga Eduardo Hagge (MDB). |
Parece que em Itapetinga a política virou um jogo de xadrez onde o rei decide sacrificar seus próprios peões no primeiro movimento. E o prefeito Eduardo Hagge (MDB), num lance de "gênio" questionável, acabou de declarar xeque ao seu próprio reinado. Tudo começou com uma coletiva de fim de ano que, para seu grupo, seria um “marco na comunicação”. Para o resto do mundo político, aquela turma chata que ainda acredita em estratégia, foi simplesmente o desastre perfeito.
E o cenário era digno de drama-política: lá estava o secretário de Governo, Geraldo Trindade (MDB), colado no seu notebook, tentando ajustar o discurso do “Tiozão” em tempo real para evitar as costumeiras gafes. Um trabalho hercúleo, digno de um tradutor simultâneo em crise. Mas nem todo o poder da tecnologia foi capaz de conter a pérola que viria: ao ser questionado sobre a demissão em massa dos históricos “gabirabas”, fiéis do seu falecido pai, o prefeito soltou a definição que entraria para a história: “coisas pequenas”. Pode anotar, Geraldo: às vezes, o improviso súpera qualquer roteiro.
A fala, é claro, viralizou na velocidade de um print no WhatsApp. Foi parar no IDenuncias, ganhou asas no jornal A Tarde e ecoou como um tiro no ouvido de cada aliado demitido. Imagine só: você passa anos carregando um clã nas costas, é descartado para dar lugar a quem tentou afundá-lo, e ainda é chamado de “coisinha”. Até Maquiavel teria pedido pause.
'Coisas pequenas', diz prefeito Eduardo Hagge sobre demissões em massa de aliados
Entre os “pequenos” estavam vereadores como Manu Brandão (MDB), que agora navega entre a lealdade e as acusações de oportunismo. Pastor Evandro (MDB), que se diz “gabiraba desde pequeno”, deve estar se sentindo literalmente diminuído. E Luciano Almeida, que escolheu um lado no racha, viu seus indicados irem para a rua, afinal, são gabirabas, um aprendizado prático em realpolitik.
Do outro lado das Câmaras de filmagens, a festa era tão explícita que parecia réveillon antecipado. Vereadores que, até ontem, só queriam ver Eduardo Hagge longe da prefeitura, como Tiquinho Nogueira (PSD), Valdeir Chagas (PSD) e a petista Sibele Nery (PT), mal conseguiam disfarçar a satisfação. Afinal, que remédio é melhor para curar mágoas eleitorais do que uma boquinha bem servida na administração do Tiozão? É aquele velho ditado político: se você não pode vencê-los, junte-se a eles… e pegue alguns cargos.
No mesmo balcão, a satisfação era tão visível que dava para sentir pela tela. O vice-prefeito e secretário de Educação, petista de carteirinha que nunca foi gabiraba, deve ter sorrido discretamente ao ver quem o rejeitou no passado sendo mostrado à porta. Uma revanche servida fria, com direito a cargo público e sorriso contido.
E não podemos esquecer do coordenador da Cultura, Mauricio Gohmes, ex-petista, agora bolsonarista, sentado na primeira fila, pertinho do prefeito, como um espectador privilegiado da liquidação de fim de ano dos gabirabas. Deve ter sido como assistir a uma série em que você torce pelo vilão… e ele ganha.
Mas o grande vencedor da trama pode ser o ex-prefeito Rodrigo Hagge (sem partido), visto por muitos gabirabas como o verdadeiro herdeiro do clã. Enquanto Eduardo trata os velhos aliados como migalhas, Rodrigo fatura o espólio político do avô Michel.
Em ato insano, prefeito Eduardo Hagge sepulta os últimos gabirabas e saruês da Prefeitura
Para completar o serviço, o ex-prefeito ainda fechou uma aliança poderosa com a ex-líder opositora Cida Moura (PSD) a mesma que tentou derruba o Tiozão nas urnas. Juntos, eles já planejam o futuro, que pode incluir, quem sabe, humilhar o “Tiozão” em 2026 e derrotá-lo em 2028.
Resumo da ópera: em menos de um ano, Eduardo trocou a base que o elegeu por quem queria vê-lo longe do poder. A repercussão não foi sobre o balanço de governo, mas sobre a fala desastrosa que resumiu uma traição. E alguém avise ao prefeito: em política, até as “coisas pequenas” podem crescer e virar um problema grande. Muito grande.
É liquidação de gabirabas, é vida que segue...

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